Certo dia alguém me perguntou: “Qual a sua idade?” Pedi-lhe um tempo e pensei que resposta daria. Apesar de saber que não é educado perguntar a idade de quem quer que seja, não faço coro com as pessoas que mesmo diante das evidências, estão sempre a diminuir os anos numa tentativa vã de parecerem mais jovens. Aí pensei:
- Ah! Já sei o que dizer! Tenho a idade dos meus sonhos e esses não acabam nunca. Tenho um encontro marcado com eles todos os dias: no cheirinho da grama molhada, na bacia cheia de cajás - apanhados ao primeiro raio de sol – no caçuá de jabuticaba, no rolete de cana, no cacho de pitomba e no pé de flamboyant. Ah, meu pé de flamboyant... Quantos sonhos você embalou! Um rolo de corda, uma tábua e um travesseiro e lá estou, menina, a alçar vôos querendo alcançar o brilho do sol nas brincadeiras de criança.
O tempo foi passando, deixei para trás laços de fita, brincadeiras de roda e fui em busca do sonho de amar e ser amada. Peguei o bonde da esperança e durante a viagem, plantei um canteiro de margaridas em minha alma para saudar o amor que estava chegando de mansinho e ternamente, em meu coração. Construí castelos de areia, me perdi em devaneios, os sonhos mais lindos vivi e eles foram eternos enquanto duraram.
Há uma música dos Titãs que diz: “Devia ter errado mais, amado mais e visto o sol se pôr. Devia ter me importado menos com problemas pequenos, ter morrido de amor (...)”. Não morri de amor e os sonhos continuam. E são tantos que eu, menina, esqueci de virar gente grande. Tenho a idade dos meus sonhos e esses não acabam nunca. Eis a minha resposta.