Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

março 29, 2008

Canção da Chuva



Lá fora, a chuva cai silenciosa e intermitente. Aqui dentro, as lembranças vão surgindo no mesmo ritmo, deixando a descoberto a criança que fui um dia. Basta uma garoa e lá estou eu, menina, a correr pelos campos, olhando para o céu e pedindo a São Pedro que faça cair um toró capaz de lavar a minha alma.

Que saudades que eu tenho de ser criança outra vez! Ela é a minha melhor parte... É o sonho, a magia, a ternura, a inocência e o mais importante: é a soma de toda a humanidade dentro de mim. Posso abrigar dentro dela, o branco e o negro, o feio e o belo, o perfeito e o imperfeito, o oriental e o ocidental, sem que isso faça a menor diferença, pois ela desconhece a maldade e o preconceito.


Não por acaso, hoje, sentindo essa chuva fina que cai como lágrimas dos céus a derramarem-se sobre o meu rosto; eu sinto saudades da minha infância e da alegria criança que eu nunca perdi. Tenho ímpetos de sair por aí me banhando nas águas de março, oferecendo o rosto para o beijo molhado da chuva a purificar a minha alma e aquietar o meu coração tão saudoso do passado.

A minha memória afetiva traz o som de um piano a executar o ‘Noturno de Chopin’ noite adentro, em sintonia com a canção da chuva que torna o ambiente acolhedor e propício às saudades em tom maior.


Um jardim cheio de flores, borboletas a pousar em rosas, margaridas, cravos e dálias e uma grama molhada pelo orvalho da madrugada denunciam que a criança que há em mim, está pedindo passagem: “são as águas de março fechando o verão” é a saudade de mim, fazendo morada em meu coração.

3 comentários:

Dani Almeida disse...

lindo! amei, mãe!
texto romântico, bem a sua cara.
faz a gente viajar no tempo.

Lúcia Temóteo disse...

Muito lindo Julieta. Você usa tantas imagens, tão reais e tão delicadas. Nos leva a viver o que já vivemos um dia e uma saudade gostosa nos invade.

Pedro Ivo Duarte disse...

Tia Ju!!!
acabei de ler, e lembrei de minha infÂncia em Paulo Afonso-BA... que ainda tinha vários banhos de bica que eram formados com a chuva...
saudade boa de tempos adoráveis.

parece que sabes o que queremos escutar, e transforma em palavras doces que invadem nossos corações e transbordam as alegrias adormecidas dentro deles.
xêro!!