Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

setembro 29, 2008

Bandeira Branca



Bandeira branca sinalizou, ela, e capitulou... Não mais haveria de esconder aquele amor guardado por tantos anos. Às favas com os escrúpulos, as meias verdades, as frases de duplo sentido e tudo o mais que o levasse a meio centímetro do calor dos seus braços e do seu beijo ardente. Não poderia esperar nem mais um segundo, pois, já tinha provado a eternidade longe do seu amor.
Foram longos os anos de espera e os projetos a dois, adiados em nome das convenções. Dessa vez, seria pra valer. E ela apostou todas as suas fichas nisso. Guerreira que era, foi à luta e emprestou-lhe também os cabelos, para que ele tivesse a força do Sansão de Dalila.
Pobre homem, quando viu sobejar tanta devoção, tanto carinho e tamanho desprendimento, avultou-lhe a culpa de não saber amar... E partiu para nunca mais voltar.

setembro 28, 2008

Habilite-se




Respondendo a sua pergunta, eu diria: meu compromisso é com a felicidade e esta, não está no prazer das horas nem na superficialidade dos encontros casuais. Não estou à procura da metade da minha laranja, nem tampouco da minha alma gêmea. Sou inteira, não necessito de complemento!

Acredito no amor que tenha como base o respeito e a admiração. Não saberia amar alguém que eu não admire e essa inclinação passa longe de um rosto bonito e um corpo sarado. Preciso de algo mais sólido! Desejo gente bem resolvida, que não necessite provar nada a ninguém. Gente satisfeita com as suas rugas, com os seus cabelos brancos, com a sua história de vida, e por que não, com a sua pouca habilidade para trapacear mentiras de amor. Ah, tem ainda um detalhe: na minha matemática um mais um, somam... E no meu corpo só cabe um abraço.
Portanto, se você se enquadra, habilite-se!

setembro 27, 2008

Não me Perguntem




Outro dia, tentei escutar a velha senhora que há tempos pede passagem para fazer morada em mim, e não a encontrei.

- Sinto muito, ousei dizer, mas a minha parada estacionou nos quinze anos. Tenho alma – ou espírito – de criança, e não me peçam para mudar! Não tenho medo do ridículo, e sim, de não poder criar, produzir, erguer castelos no ar e com eles abastecer de sonhos o meu viver. E a que se destina o viver se não for para transformar a matéria dos seus sonhos em realizações palpáveis? Há pessoas que morrem cedo quando abrem mão do desejo e da sua capacidade de transformar o mundo. São peregrinos de uma nação sem bandeira e estranhos de si mesmos. (...).

Não são os anos que me tornam mais sábia e circunspecta, porque se assim o fosse, todas as velhas seriam prudentes e felizes. A minha sabedoria está em permanecer alerta aos chamamentos da vida, a alegria de viver e a possibilidade de poder voltar e começar tudo outra vez.

Não quero a passagem e a seriedade dos anos determinando o meu comportamento e as minhas atitudes. Quero, agora e ainda, a iniciação dos meus verdes anos, para desfraldar as bandeiras que eu assumi na conquista da minha felicidade.
Portanto, não me perguntem! A ninguém é dado o direito de me lembrar a minha idade e o que fazer com ela, pois, tenho a idade dos meus sonhos e eles não acabam nunca.

setembro 26, 2008

Sonhos Sem-Teto



Sonhos Sem-Teto me levaram a manusear o alfabeto de brinquedo das minhas ilusões...
A arte de brincar com as palavras me proporcionou um gozo inenarrável. Embora não seja artista das letras, tomei posse do alfabeto da minha ignorância, e com ele reinventei o prazer de criar os meus sonhos sem-teto. Ah, que deliciosa essa vida de palavras! Como mentem quando eu preciso, e silenciam quando alguém se arvora no direito de possuir a legitimidade das palavras de amor.


As minhas palavras não têm vida! Elas são feitas de ausências... E validar a sua ausência é tudo que eu preciso para abrir mão dos meus sonhos sem-teto. Sonhos sem-teto, sempre eles, armazenando-se dentro de mim e ocupando espaços abertos pelo mito do verde-esperança.


Ah! Como eu queria ser artista das palavras, e com elas poder manipular essa dor que não passa, e que me vem de não sei onde, e sem eu saber por quê...

setembro 25, 2008

Quem terá a posse da eternidade?



A vida é o que está acontecendo aqui e agora...
A diferença que há entre nós é que no côncavo das suas mãos você segura a eternidade como se ela fosse presente dos deuses, apenas, para a sua vida. Para mim o tempo urge e a vida é breve. Preciso dele para viver a felicidade escorregadia, que ora transita pelos meus dias, lembrando-me que nada dura para sempre, pois até os meus sonhos têm se tornado efêmeros nesse vaivém de emoções contraditórias.

Mantenho o amor que ainda sinto embalado na certeza de que o tempo e a ausência matam o amor, mas nada podem contra a saudade. E é dela, que ainda hoje, eu me alimento. Mas, o meu desejo de ser feliz procura por espaços, e na alternância entre suas dúvidas e ausências, um motivo a mais, para tentar atravessar a ponte que me leva onde a felicidade está disponível, pois, no silêncio das suas palavras, eu vi uma escolha.
Agora estou à deriva, mais uma vez essa tal felicidade se fez sorriso e se desmanchou nas ondas do mar. Navegar agora é preciso! O tempo e a sua ausência farão mais por mim do que eu e esse meu amor igual...