Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

janeiro 20, 2008

Ainda sobre o Amor




Senhoras e Senhores, a partir de hoje, eu, ré confessa, de memórias de um tempo onde o romantismo aportou com ares de eternidade e o amor embalsamou versos e prosas, para encantar e colorir os nossos dias, retiro-me de cena, cerro as cortinas e tomo destino ignorado. Vou cantar noutra freguesia, já não há mais nada para se falar sobre o amor. Ele tornou-se um tema cansativo, monotemático. Vou construir um personagem e com ele vou ganhar vida batendo pernas no mundo, e quando alguém me perguntar sobre o amor, eu farei como a ave de arribação, lançarei vôos e farei morada em algum lugar, onde o passado, assim como a saudade, só exista na língua portuguesa, aliviando dessa forma, o peso das minhas lembranças.

Há tanta coisa mais importante para se falar! Tantos temas palpitantes para se discutir, e eu, aqui, a falar de amor. E a fome, a miséria, a falta de solidariedade, a corrupção na política, os planos do governo, suas metas, o seu superávit, as crianças na rua e a violência? Por que não se falar sobre isto?

Olavo Bilac, em seus versos, dizia: "Ora (direis) ouvir estrelas!". E eu vos digo: ora, não sabeis que a fome, a falta de solidariedade, a corrupção na política, os desvios de dinheiro para paraísos fiscais, etc, etc, etc, tudo isto também se resume em amor...

É o amor pelo avesso, é o amor bandido, egoísta e mesquinho, que se apossa da cidadania de cada um e lhes rouba o direito à decência e à dignidade, transformando cidadãos de bem em massa de manobra para fins políticos e condenando outros a viverem em guetos e submundos, onde a miséria é o pão nosso de cada dia.

E tudo isto, por quê? Porque não há amor! O amor nasce e se manifesta primeiro no aconchego do lar, nos exemplos passados de pais para filhos, de respeito, caráter e dignidade, e na construção de ternuras, na cumplicidade do olhar e no silêncio, quando ele fala a linguagem da paz.

Li em algum lugar a frase: “Dai-me os primeiros cinco anos da vida de uma criança e eu me responsabilizarei pelo homem de amanhã”.

Pois bem, meus amigos, busquem em si mesmos, lembranças que falem de amor e aplique-as na realidade de seu país, cada qual fazendo a sua parte, como o beija-flor que tentava apagar um incêndio apenas com a água que trazia no seu bico, enquanto outros cruzavam os braços dizendo que era em vão, ao que ele respondeu: “Se cada um fizer a sua parte, a gente pode, sim”.

É o que eu lhes digo agora: Falem mais de amor, pratiquem mais o amor. E esse amor, que parece tão piegas, tão cansativo, tão fora do tempo e da realidade, será a mola propulsora que alavancará o progresso desta nação. Pois onde se manifestar o amor, aí também fará morada o direito, o respeito à coisa pública e à dignidade do cidadão.