Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 06, 2008

Meu Pé de Flamboyant














O Pé de Flamboyant – da minha infância - era o meu passaporte para a felicidade e a minha identidade de criança. Nós fincamos as nossas raízes em um mesmo terreno e crescemos juntos. Ninguém sabia ao certo onde começava um ou findava o outro. Éramos unha e carne, parceiros e cúmplices, companheiros de uma infância feliz. “Carpe Diem” era o nosso código.

Naquela época, o tempo e o vento em conta-gotas contribuíam para o bailado que as flores executavam quando se desprendiam dos galhos, fazendo surgir em ondas vermelhas um tapete por onde rolavam as nossas emoções e a sutil arte de ser feliz, pois, de viver ninguém tinha pressa; colhíamos o dia para saboreá-lo à noite entre sussurros e risadas felizes.

O tempo se fez cupido dos meus sonhos: o meu pé de Flamboyant adormeceu em mim, e acordou hoje, trazendo lembranças que me fazem feliz outra vez.

Em seu tronco mais forte instalei um balanço – uma corda, uma tábua e um travesseiro - e eu, menina, alcei voos inimagináveis... Pura fantasia, somente realizável pela inconsequência da idade e do ser criança; muitas vezes eu subi em seus galhos com um prato de comida numa mão e um copo na outra, apenas, para olhar a cidade do alto de suas copas. Sentia-me feliz e poderosa... Era a felicidade em flocos de algodão doce tentando se misturar às nuvens para tomar banho de sol...