Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

agosto 07, 2009

Carta para os Meus Filhos






Na quietude da solidão abissal que se espalha por espaços, onde antes morava o riso e a alegria, eu teço lembranças. O fio condutor dessa trama é a síndrome do ninho vazio. E agora, José? O que fazer com os meus braços que, de tão poucos abraços, pendem inertes e vazios? E do silêncio que desafia as horas tornando eternos os minutos que passam?

O tempo, sempre ele... Algoz! Sorri das minhas saudades umedecidas, faz pouco caso da solidão em que me encontro, e acha graça no poema que entôo, para afugentar essa dor que tem nome: meus filhos!

"Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?”

Tinha razão o poeta Vinicius, quando cantou em versos todas as agruras que iríamos passar, a partir do momento em que decidíssemos acolitar os primeiros passos desses pequenos seres que colocamos no mundo. E, também, Chico Buarque, quando escreveu: “o tempo passou na janela e só Carolina não viu...” É, ‘Seu Chico’, ele passou voando por entre mamadeiras, brinquedos, adolescências, livros e becas, e eu, debruçada na janela, distraí-me vendo a banda passar e não me dei conta que o tempo urgia.

E agora, José? É a pergunta que me faço todos os dias, quando as lágrimas substituem o riso e constato que “naquela mesa tá faltando ele(s) e a saudade dele(s) tá doendo em mim.”

O que fazer com tanto amor, tantas lembranças e esse espaço vazio? Respondo: - Para saudade, recorro às palavras tentando minimizar a dor das ausências, e para o amor, faço a expurgação do egoísmo, libertando-os para a vida: sigam os seus caminhos, meus filhos! O amor que sinto é maior que eu, e tem gosto de liberdade... Tomem as suas asas, se elas não lhes forem suficientes eu empresto as minhas e, de quebra, lhes ofereço a minha coragem de amar e deixar partir. Sejam felizes! Eu estou bem.

5 comentários:

Anônimo disse...

Juliêta,

obrigado por SEGUIR a Vítima da Quinta!

Volte sempre!

Vou dar uma volta e lida no seu interessante blog!

Bjs

Jorge Pinheiro disse...

Sensibilizado com o mail. Se a TV foi importante para si, embora nós não tivessemos tido essa consciência, fique sabendo que ainda hoje me interrogava porque sou sempre eu a puxar os projectos, a fazer os meus amigos fazerem coisas. Sou sempre eu a telefonar, a desafiar para um livro, uma música, um concerto. Interrogava-me se não seria um chato. Seu mail veio dissipar as dúvidas. Devo continuar. É essa a minha natureza. Obrigado e um beijo.

Luma Rosa disse...

São os ciclos que se encerrão para início de outros. Agora virão os netos a encher a casa!! Mas não tenha muita esperança, pois que não querem mais ter filhos tão cedo!! Boa semana! Beijus

Nina disse...

Ahh Juju, que lindo texto! Dói a saudade né? Os meus, tenho dois, uma de 15 e um de 12, estão biajando sozinhos e ficarão longe mais de um mes, e eu sinto um vazio.... fico imaginanod qd crescerem amis e assumirão suas vidas, ooohhh dor de mãe...

Ei Mister M,rsrsrrs, tá precisando de colo né? entendo
Um beijo querida, bom te ver de novo. Aliás, que foto LINDA essa tua no perfil, amei, tao colorida, assim como é tua alma.

Carla S.M. disse...

Que texto emocionante. Talvez porque seja mãe há apenas 3 anos e sei que ainda tenho tantas fases pelas quais passar, sofrer, adaptar-me e... continuar!
Beijo grande!