Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

setembro 17, 2009

Verbo Amar




Muito se fala sobre o verbo amar e consultando o Aurélio, descobri que ele pode ser transitivo direto, intransitivo ou verbo pronominal. Amar sintaticamente, essa não é a questão! A pergunta é quando amar vale a pena?
1º - Como verbo transitivo direto, tem-se o exemplo: Ter amor a; querer muito bem a; sentir ternura ou paixão por.
Li, recentemente, um artigo – e há vários títulos similares no mercado editorial – onde a autora começava fazendo a seguinte indagação: quer conquistar o homem dos seus sonhos? De imediato, lembrei do parágrafo acima e do lado feminino do amor, aquele em que você se anula em função do outro, se assume escrava de seus desejos, vontades, disponibilidades e preferências. E respondi não! Sabem por quê?
- Porque o amor, o querer, a ternura e a paixão – da maneira citada acima - já foram gastos por mim e para mim. Fui me descobrindo e conhecendo aos poucos, deixando aflorar os meus quereres e depois, resoluta, decidi que não quero conquistar nem ser conquistada. Desejo ser o córrego, o riacho, o rio e todas as águas correntes que afluem para o mar e nele se beneficiam. Quero você e eu juntos, mar sem complicações de ordem ou hierarquia, nem objeto direto, nem indireto, tampouco verbo intransitivo.
Ah, verbo intransitivo! Como ele é orgulhoso, intransigente, cheio de si e mandão! Dispensa companhia! Basta-se! Vive atropelando as palavras, tem dificuldade em formar frases, usa e abusa do direito de ser conciso e ainda requer pra si o troféu de campeão. Coisas do gênero penso eu, ou de quem se valoriza por se achar minoria e raridade. Pobre verbo de conjugação deficitária! É um solipcista de primeira, desconhece a relação pronominal (...).
Pensando nisso, volto ao Aurélio, procuro o amor e encontro: amar, verbo pronominal. Experimentar um sentimento mútuo de amor, ternura, paixão.
Eis o cerne da questão! Um sentimento recíproco de todos os bons sentimentos (...). Quando se tem isso, o resto flui naturalmente, você e eu juntos, mar, nem primeiro, nem segundo, nem macho, nem fêmea, nem senhor, nem escrava (...). Apenas nós, cada um com a sua singularidade, mas se reconhecendo plural no amar (...).
“Heureca!” Agora, sim, eu tenho uma resposta: amar vale a pena quando não se encontra um turista acidental, que aporta na sua vida com açodamento, trazendo na mala promessas para um futuro incerto. Quando, antes de tudo, temos um compromisso com nós mesmos de respeitar a individualidade do outro e fazer de todo dia, um desafio para amar pronominalmente (...). Nós!

setembro 09, 2009

Sonho Desfeito






Uma releitura do passado trouxe à tona imagens esvaecidas pela poeira do tempo e eu precisei reinventar você, que estava perdido no hiato entre a realidade e o sonho, que alimentavam os meus dias.

Num jogo de memórias fui buscá-lo e, tal qual uma colcha de retalhos, tentei juntar o que sobrou de nós dois - outra vez - apenas para descobrir, em seguida, que você já não cabia mais na minha vida. “O tempo, senhor da razão”, instado por mim, declarou:

"Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará”

Foi então, que eu compreendi... O sonho acabou! Por isso estou de partida, deixando para trás um mundo de fantasias... Aquela que eu fui não cabe mais em mim... Descobri que a distância existente entre nós chama-se atitude e resolvi não compactuar mais com a sua fraqueza. Fraqueza feita de pressuposições, silêncios e fugas... Julgou-me mal! Eu nada queria além de um aperto de mão e da sua amizade tardia.

setembro 02, 2009

Silêncio e Cumplicidade







Todos sabem que, nas relações profissionais e pessoais, é de fundamental importância a capacidade que temos de comunicar ao outro a nossa maneira de pensar e ver a vida, tendo em vista um relacionamento baseado na verdade e no respeito, pilares indispensáveis na construção da confiança, da credibilidade e de uma amizade verdadeira.
Pensando nisso, vejo o silêncio - usado por quem refuga a verdade e a honestidade – como causa de sofrimentos desnecessários: é o médico que oculta o diagnóstico de uma doença terminal, porque julga que assim é o melhor; o amigo que escamoteia os fatos para obter vantagens; aquele outro que dissimula a inveja e o ciúme e se esconde no mutismo e na ausência; o ser amado antes presente e amoroso e, agora, manipula o silêncio como meio de fugir ao diálogo. Esses e tantos outros motivos usados habitualmente trazem, no bojo, uma verdade: é um recurso usado para fugir da força que têm as palavras.
Em conseqüência disso, temos a perda da confiança e da credibilidade, do distanciamento e das reticências no discurso amoroso. Ao paciente foi tirado o direito de decisão e como resultado foram-lhe subtraídos alguns momentos de felicidade, aos amigos a possibilidade do entendimento e ao ser amado, o respeito e a admiração, razões pelas quais o amor floresce.
Por tudo isso, só nos resta lamentar que o silêncio, arma dos fracos, possa detonar o verdadeiro sentido da convivência humana provocando o isolamento e a solidão, pois viver e conviver requer coragem e na ausência das palavras se instauram as dúvidas, se diluem os afetos. Ninguém precisa usar de crueldade, ironia ou desprezo pelo outro, nem dizer verdades que magoem mais que uma ‘mentira necessária’, mas convenhamos que, o silêncio usado como arma de manipulação, necessita ser revisto por todos que têm como meta um relacionamento mais saudável, humano e honesto.