Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

janeiro 11, 2009

Despedindo-se das Saudades




Através da janela daquele ônibus que a levava, agora, a um destino certo, ela viu passar uma a uma as suas lembranças. A lágrima furtiva que teimava em cair denunciava que uma dor estava prestes a partir. Simbolicamente, aquela última parada, de uma viagem de muitos dias, significava um ponto final tantas vezes ensaiado em sua antiga história de amor.

Com o olhar perdido em um mar de lembranças, ela tentava conter aquela torrente de saudades que desfilavam na mesma velocidade com que trafegava o ônibus. Como ela desejava que o motorista fosse solidário com a sua dor e acelerasse a 380 km por hora a fim de acabar todo aquele tormento.
Anos a fio viajando com uma mala velha cheia de recordações dolorosas e, só agora, lhe parecia um peso insuportável de se levar.

Uma dor lancinante lhe indicava que estava na hora de enterrar os seus mortos. Pausadamente, ela colocou a mala no chão e foi tirando peça por peça, numa tentativa de esvaziar também aquela dor que lhe oprimia o peito. Um oceano de lágrimas jorrou em sua face e ela prometeu a si mesma nunca mais amar igual.

(...)

E o deixou, finalmente, abandonando ali as suas saudades.