Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

fevereiro 23, 2011

Do que não gosto






A inquietação e a voracidade não encontram frestas e vãos, dentro de mim, por onde possam escoar o fluxo de suas incertezas.


Não gosto do assombro!

Gosto da zona de conforto que me permite, no silêncio contemplativo das madrugadas, encontrar com o entardecer dos meus dias, sem arrependimentos, nem distrações.

Não gosto de cacos!

Eles lembram partidas. Pedaços de vida se estranhando.

Não gosto de despedidas! Tenho fome do infinito...

Amo sem economizar tempo, nem afeto, nem ternura. No meu amor não há prazo de validade. Ele é um lugar de porto-seguro e de aconchego. Nele, o tempo desacelera o passo e a sua sina de seguir. Reconcilia-se com as horas e abre caminhos e possibilidades para o eterno. Estaciona! E, dessa forma, reinventa uma relação onde os sonhos não são extraviados...

Nasci para eternidades!

fevereiro 06, 2011

Na Pausa da Fotografia




Ah, esses nossos professores de redação! Sempre a nos exigir que economizemos a vida em poucas linhas. Pensando bem, ela parece caber, toda, na pausa daquela fotografia.

Olho para o quadro na parede e vejo que a imagem está ali, mas a vida, não! Essa corre lá fora... Ali está apenas uma cena em pausa melancólica pedindo providências, exigindo outro roteiro, outro rumo, uma nova direção...

Aquela foto desbotada era uma metáfora do que fora a sua vida até aquele momento: uma espera sem fim, por um amor, que ficara na pausa de uma fotografia.

Por um longo período ela deixou que a sua alma vivesse em desalinho. Respeitou lacunas e silêncios... Pensava: não tenho problemas com a solidão! Mas, é certo, que lhe doía aquele amor que não respeitava o tempo e, ainda hoje, batia à porta do seu coração dizendo: queria que ele estivesse aqui!

Vivia antecipando saudades para apaziguar a sua alma blindada, devastada, desabitada. Há anos que não cabia dentro de si. O amor por aquele homem ocupava tempo e espaço que eram seus. “Vivia como estrangeira de si mesma: sem alma, sem DNA, sem código genético.”

Vivia! Pois, a partir daquele momento, ao olhar o quadro na parede, resolveu fazer uma escolha: entre ele e eu, escolho a mim. Quero, hoje, um amor que me procure; que venha bater a minha porta e que tenha a coragem de dizer que precisa de mim. Porque é assim que eu sei amar. INTEIRA!

Então, olhou novamente para a vida estagnada na pausa daquela fotografia e concluiu: agora chega, acabou! E, aquela frase ecoou dentro dela, como um aceite de um tempo que chegara ao fim.