Existem amores que carregam no peito o lema: sem jeito pra ser feliz! Entendem-se bem com a poesia quando derramam seus versos nas páginas em branco, mas não encontram espaço na vida real. Faltam-lhes as asas da liberdade, pois amar é morar dentro do outro sem tomar posse.
O amor deveria ser uma casa de portas e janelas abertas, para que pudéssemos entrar e sair livremente. Uma casa de passagem onde a alegria do encontro, da cumplicidade e do companheirismo fossem responsáveis por retardar a despedida e, quando houvesse, que ela tivesse a medida do respeito e da admiração dos primeiros dias.
Mas não é isso que acontece, apesar de vivermos uma época em que a liberdade amorosa é tão cultuada. Há sempre nas relações atuais, uma porta cujo indicativo saída de emergência parece invocar a impermanência e, por ali passam a intolerância, a violência e o desamor. Queremos amar e ser amados. Falamos tanto sobre o amor, celebramos esse sentimento em cantos e em versos, mas o que prevalece, nesses tempos modernos, é um novo conceito de escravidão, onde se barganha a posse do outro em troca de um possível afeto. Afeto que está mais para jugo, subserviência e senhorio do que para o amor, pois quem deseja subjugar o outro desconhece a liberdade da alma e a sua capacidade de se doar livremente...
Desconhece, também, que quanto mais livre somos mais fazemos festa dentro de nós para celebrar esse porto seguro, que é dormir e acordar dentro dos olhos do ser amado... Eternamente! E, que essa, sim, é uma “escravidão escolhida” e, só por isso, tão importante e duradoura.
Por isso, estamos fadados a encontros e desencontros, enquanto não aceitarmos que tu e eu podemos ser uma equação feliz, a partir do momento em que reduzirmos às expectativas, em torno das quais construímos o nosso patrimônio emocional, a um único objetivo: à felicidade de morar dentro do outro sem tomar posse, pois o verbo amar para ser conjugado precisa de liberdade.