Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 08, 2012

Um Tema de Improviso





Sempre que eu encontro o meu professor de redação, ele desafia-me com os seus temas de improviso. Uma brincadeira que a esta altura não me rende sequer uma nota mínima. É que andei desbotando as minhas saudades. Mas, como recusar um pedido do querido mestre que ao longo dos anos ensinou-me a pontuar as minhas dores?

Refeita da surpresa de vê-lo, assim, diante de mim, ao acaso, não resisti à tentação e comecei a desfiar o meu rosário de queixas.

Ah! Professor, não me peça para acordar as minhas lembranças, pois elas, agora, são permeadas de reticências: daquilo que não fiz, do que não fui e do que não ousei.  Doem, em mim, as folhas do tempo que eu não vivi...

Queria um momento que fosse da minha juventude, para desafiar convenções, regras e preconceitos. Queria um instante apenas, para afrontar o destino que me fez covarde e submissa.

Ousar!  Essa é a palavra de ordem para qual eu nunca dei ouvidos. Arriscar-se, atrever-se, decidir-se... Desarrumar a vida e empacotar lembranças com cheiro de naftalina foi algo que não passou de um intervalo entre a minha vontade e o meu medo. Medo de não saber reinventar a existência dando-lhe um lugar para o imponderável.

Ah, como eu queria - no passado - ter a visão do agora, onde me descobri portadora de quereres e de desejos nunca antes experimentados. Uma pausa nos ponteiros do relógio seria suficiente para que eu inventariasse as minhas dores e decidisse: daqui pra frente tudo vai ser diferente... Mas, hoje, falta-me tempo e sobra coragem!

Por isso, como é finda a nossa conversa e só me restam duas “linhas”, termino a oralidade da minha redação, dizendo: até outro dia, professor!