Sempre que eu
encontro o meu professor de redação, ele desafia-me com os seus temas de
improviso. Uma brincadeira que a esta altura não me rende sequer uma nota
mínima. É que andei desbotando as minhas saudades. Mas, como recusar um pedido
do querido mestre que ao longo dos anos ensinou-me a pontuar as minhas dores?
Refeita da
surpresa de vê-lo, assim, diante de mim, ao acaso, não resisti à tentação e
comecei a desfiar o meu rosário de queixas.
Ah! Professor,
não me peça para acordar as minhas lembranças, pois elas, agora, são permeadas
de reticências: daquilo que não fiz, do que não fui e do que não ousei. Doem, em mim, as folhas do tempo que eu não
vivi...
Queria um momento
que fosse da minha juventude, para desafiar convenções, regras e preconceitos.
Queria um instante apenas, para afrontar o destino que me fez covarde e
submissa.
Ousar! Essa é a palavra de ordem para qual eu nunca
dei ouvidos. Arriscar-se, atrever-se, decidir-se... Desarrumar a vida e
empacotar lembranças com cheiro de naftalina foi algo que não passou de um
intervalo entre a minha vontade e o meu medo. Medo de não saber reinventar a existência
dando-lhe um lugar para o imponderável.
Ah, como eu
queria - no passado - ter a visão do agora, onde me descobri portadora de
quereres e de desejos nunca antes experimentados. Uma pausa nos ponteiros do
relógio seria suficiente para que eu inventariasse as minhas dores e decidisse:
daqui pra frente tudo vai ser diferente... Mas, hoje, falta-me tempo e sobra
coragem!
Por isso, como
é finda a nossa conversa e só me restam duas “linhas”, termino a oralidade da
minha redação, dizendo: até outro dia, professor!