Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

janeiro 08, 2013

Escolhas



Escolhas! Tudo na vida é escolha. Quando opto pela direita esqueço a esquerda; quando traço um caminho de linhas retas distancio-me das curvas; se desejo o novo desapego-me do velho. Tem sido sempre assim: uma hora ou outra tenho que decidir.

Passaram-se os anos, enquanto me recusava a ouvir os ponteiros do relógio marcar o tempo e selecionar as horas que me restavam de juventude. Fiz-me surda às urgências da vida e ao passar veloz dos dias e, tal qual um oleiro, fui moldando a argila dos meus sonhos de maneira que neles só coubesse a certeza de que, um dia, tudo enfim daria certo. Acreditei que tinha a posse da eternidade e fiquei à mercê das minhas fantasias.

Nesse meio tempo, criei um personagem e, delicadamente, dei-lhe forma; um sopro de vida. Pronto, nasceu o amor! Não, o real, mas aquele fruto do meu desejo e da minha imaginação. Então, passei anos a fio esperando por ele, até perceber que vesti os dias com a fantasia dos meus sonhos e que, na realidade, esse amor nunca existiu. Não, como eu o tinha imaginado... Foi aí que resolvi que já estava mais do que na hora de fazer uma escolha: não contar mais os dias pelos sonhos acalentados, deixar que as páginas da vida se lançassem ao sabor dos ventos e que a história traçasse o seu próprio percurso, sem a interferência da minha vontade. Uma decisão que iria me tirar da zona de conforto, onde tudo era poesia, e me expor, às vistas, o amor como era na realidade...

O que devo fazer para levar essa determinação adiante, perguntei-me?

- Ressignifique o amor! Disse-me a voz da razão. Insatisfeita, voltei à questão:

- Será essa a solução para as minhas dores? Existirá uma maneira de fazer esse afeto dar certo, sem que eu perca a minha essência? Pois, à medida que me deixo levar por ele vou ficando, cada vez mais, distante de mim mesma: esvaziada, despedaçada, desarticulada...

E, entre um pensamento e outro, indaguei-me novamente:

- Com quantos sim e não eu posso construir o castelo que vai abrigar esse sonho tão desejado? Pois, se sou companheira e adoço a vida com açúcar e com afeto, ele, o amor, dizendo-se cansado e entediado, foge da rotina e procura as damas da noite com as suas bocas carmesins. Quando ofereço a constância e a fidelidade do meu sentimento, sente falta da indiferença, do jogo e do faz- de- conta que as “outras” usam para manipular as relações afetivas... É sempre assim: ofereço o dia, ele quer a noite. Oferto a noite, ele deseja o vazio...

Afinal de contas, existe a possibilidade de uma escolha sensata, que abrigue, ao mesmo tempo, o desejo de amar e ser amada  e o de permanecer fiel a minha essência?

- A resposta pareceu-me apontar para o óbvio: existe! Pois, como já escreveu alguém: - “ Minha felicidade sou eu, não você. Não só porque você pode ser temporário, mas também porque você quer que eu seja o que não sou”.

Por isso, decidi:

- A partir de hoje deixo que a vida escreva em minhas páginas, um novo capítulo, onde o amor “ressignificado” possa contar uma história real e mais feliz do que as que eu tenho vivido até esse momento... Fiz minha escolha.

2 comentários:

chica disse...

Maravilha te ler com tanta propriedade que tens ao te expressar. Adorei e desejo sempre acertadas escolhas! beijos,chica e ainda FELIZ 2013!

conduarte disse...

ressignificar, adorei essa palavra! Tudo muito bem escrito!
bjs CON