Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

junho 23, 2013

No Entorno da Caverna








Tem dias que eu acordo assim: olho ao redor e vejo tudo igual, então, me dá um cansaço! O relógio do tempo sinaliza a contagem dos séculos, mas o homem, ignorando a fresta de luz que entrou na caverna, recusa-se a sair do estado de cegueira em que se encontra e, dessa forma, segue perdido no labirinto de suas próprias escolhas.

Tentando compreender as distorções que levam o gênero masculino a se comportar como se o mundo lhe fora oferecido numa bandeja e a pensar que a mulher é apenas mero coadjuvante a lhe servir nesse banquete chamado vida, eu me pergunto: - até que ponto nós somos responsáveis por isso!?

Criamos o mito e seguimos reverenciando-o geração após geração numa sucessão de erros que não têm fim. Afinal de contas, por que lhe damos tanto poder? Por que não quebramos o elo desta corrente que nos aprisiona há tantos séculos?

Pensando nisso, no dia das mães, fui surpreendida por um caminho de flores que ia desde a porta do meu quarto até a cozinha, onde um café da manhã, preparado pelo meu filho Gilberto, me aguardava. Nessa hora, eu pensei na responsabilidade que temos como formadoras do caráter do homem do futuro...

Podemos repetir o velho padrão e educar “homens machos e provedores” ou fazermos a nossa revolução particular e prepará-los para as gerações futuras, tornando-os doces e sensíveis às necessidades femininas e do mundo em que habitamos. Nem mais servas nem senhores, apenas companheiros de viagem dessa vida breve que, a cada dia, tende a ficar mais e mais solitária.

Esse é o caminho que se apresenta nessa pós- modernidade, onde já se provou de tudo um pouco, mas que nada foi suficiente para aplacar a nossa sede de amor, de afeto e de paz.

E, quando eu falo de amor, não me refiro a encontros passageiros nem a relações descartáveis... Isso, todo mundo está cansado de saber: não tem nada a ver com companheirismo e cumplicidade.

Aqui, eu falo é do amor genuíno. Aquele que é olhos e ouvidos atentos às necessidades do outro. Aquele que não conjuga o verbo na primeira pessoa e que sabe a hora certa de silenciar as suas dores, para curar as feridas do parceiro. É isso aí! Parceiros, cúmplices, companheiros e mais um dicionário inteiro de sinônimos, que nos levem à compreensão e ao entendimento de que amar é muito mais do que sexo e prazer.

Amar é aprender que na matemática da vida um mais um somam-se e dessa soma, resulta a felicidade. E, essa felicidade, não é garantia de vida, mas um exercício intenso e diário em busca de uma coisa chamada: paz! Paz que todos almejamos, entretanto, poucos estão dispostos a estender à mão ou dar o primeiro passo para consegui-la.

E, por causa disso, apesar de tanta luz e de tanto conhecimento adquiridos com o passar dos séculos, muitos continuam caminhando, ainda hoje, no entorno da caverna... Cegos e infelizes!