Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

setembro 13, 2013

Dois Caminhos - Uma Escolha




Ainda, estou aqui.


É domingo! Acabei de almoçar. Pego a estrada e vou para o meu apartamento. Refúgio do barulho externo e um lugar para pensar em nós dois...

Muda a paisagem, muda o olhar, mas a tua lembrança me acompanha... Sempre! Da janela do meu quarto ouço o barulho das ondas e vejo o sorriso do mar em suas franjas de espuma. Penso em ti.

* "Há quem se alimente da efervescência da metrópole, onde jamais se sente só. Outros se refazem na quietude das montanhas, no vagar do campo, no frescor da beira-mar". Essa sou eu! No frescor da beira-mar eu me encontro e te encontro. Somos só nós dois e a minha alma se alegra com as memórias desse lugar.

Nessa hora, cartas na gaveta e retratos na parede doem. Eu não funciono na velocidade da banda larga. Passo ao largo da modernidade... Ainda, doem em mim as amarras do passado... No meu corpo, o teu cheiro acorda lembranças. Sou olhos, ouvidos e boca em permanente diálogo... Tu continuas vivo em mim feito uma tatuagem, que eu não desejo apagar. A lembrança do nosso amor pacifica os meus dias e eu festejo, sem economia de palavras, a memória do que ficou. Pouco importa onde e com quem estejamos hoje. A morte me ensinou o valor do tempo, por isso eu celebro sempre os dias que passamos juntos. Um rastro de luz, um cheiro, um perfume, uma música são suficientes para eu mergulhar, com abandono, nas recordações de nós dois e roubar do tempo momentos para a eternidade.

Por isso e só por isso, eu transformei o meu coração numa sala de espera. Ainda, estou aqui!


Estou fora!


A minha alma festeja cartas e fotografias amareladas pelo tempo, que já não doem... Amei, amei demais! Consumi dias e noites a tua espera. Mas, acabou. Foi um longo processo, pois não acredito em amor que se esvai como fumaça. Amor, que é amor dura pelo menos quatro estações. O meu quase fez bodas de ouro, embora nesse meio tempo eu tenha sucumbido a outros afetos... Essa foi a minha redenção! Permitir que alguém lavasse as minhas feridas e perfumasse o meu corpo com a delicadeza do seu amor.

Alguns dirão: - tanto tempo perdido!? E, eu respondo:

- Não, eu não perdi tempo. Eu mudei a narrativa dos meus sonhos e incluí novos personagens, mas o meu desejo de ser feliz permaneceu igual. Essa foi a minha salvação! Olhar para o outro e permitir que ele visitasse a minha alma e perfumasse o meu corpo, enquanto desfilavas a tua vaidade colecionando memórias inúteis e lixos emocionais.

Por isso, hoje, tu és apenas uma nota dissonante nas páginas viradas da minha vida. Revisito o passado vez em quando só para me lembrar daquilo que não desejo mais, pois como disse Carpinejar: sexo sem amor é ginástica... Estou fora!

* Trecho extraído da revista Bons Fluidos. Ed. 173. Agosto/2013
 

Um comentário:

Dani Almeida disse...

"A morte me ensinou o valor do tempo". Genial! Parabéns, mais um texto lindo :)