Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

março 11, 2014

Olhos de Saudade





O telefone toca e o silêncio é invadido pela música "As Time Goes By", trilha sonora do filme "Casablanca." Do outro lado da linha, um terrorista emocional desafia as horas que passam e nada diz, nada fala encastelado em seu silêncio.

Chove lá fora. Da janela do meu apartamento vejo o mar recebendo as lágrimas do céu. Aqui dentro, também chove: lágrimas de saudades! Mas, de onde elas vêm? Procuro no arquivo das minhas lembranças e não encontro nada, nem ninguém que as mereça. Tenho olhos de saudade e uma dor agônica quando percebo o entardecer dos meus dias e vejo o quanto me entristece esses amores vãos e esse vaivém que não arrepia a pele da alma. Tenho olhos de saudade, duas páginas em branco sobre algo que nunca vivi: a plenitude do amor... Não sei lidar com um afeto que não se expõe e que silencia quando a minha fome é de palavras e de carinho.

Quero alguém que diga a que veio, pois como um andarilho profissional já caminhei por países e cidades distantes à procura deste sentimento e não o encontrei, a não ser no mar profundo do meu querer. E é dele que emerge o desejo de viver com essa pessoa que eu tanto espero e que fica silente, enquanto eu roubo dos dias a fantasia de um possível encontro e deixo guardada na janela dos meus olhos a imagem desse amor crepuscular.

O telefone toca, novamente, e eu, que habito o mundo dos sonhos sem teto ouso dizer:

- Meu amor, por onde quer que você ande, venha, a porta está aberta. Mas, venha sem medo e sem receio dessa entrega que só os corajosos e bem- resolvidos são capazes. O pó do tempo já deve ter-lhe ensinado que a vaidade e o orgulho com que exibe os seus troféus e as suas conquistas amorosas de nada mais lhe servem nessa época em que a solidão cobre o mundo...

Sei que somos todos vítimas da vontade de roçar nos amores vãos e suas bocas carmesins, contudo, para além da embriaguez do momento existe o êxtase de saber-se amado por inteiro... E, é em nome desse sentimento que eu confesso: ando com os olhos cansados de sentir saudades. Eles saem por aí percorrendo ruas, esquinas e avenidas à medida que o meu corpo suado e exausto pede arrego a essa busca frenética para recuperar o tempo perdido...

Não me deixe esperar mais! Por favor, fale! Minha alma, minha primeira pele, aquela que arrepia por dentro, espera por você desde sempre. Venha!

Um comentário:

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Julieta
Um clamor que nos emociona...
Bjm fraterno