Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

abril 17, 2014

Roubando Cartas de Amor






Ontem, ao ver surgir na esquina da minha rua, o carteiro e a sua mochila cheia de sonhos, lembrei-me da menina que roubava livros. ( Markus Zusak - A Menina que Roubava Livros - (2011). O entardecer já começava a tingir o dia com as cores do crepúsculo e eu, ali, parada e sonhando com cartas de amor de um tempo em que as palavras eram como um terço de contas bonitas e perfumadas... Cada letra se parecia com uma Ave Maria rezada ou um Pai e Nosso cantado com devoção, tamanha a sinceridade e a fidelidade ao exercício da escrita. Hoje, elas - as palavras - vestem-se de purpurina e saem, sem pudores, contando mentiras de amor nas ruas, esquinas e bares por onde trafegam os perdidos da noite e suas tristezas ambulantes.

Pensando nisso, resolvi seguir a ideia da menina que roubava livros e pensei: por que não roubar cartas de amor, para alegrar os meus dias?

Cartas de amor são palavras escritas pelo avesso... Não há enfeites, não há purpurina! Somos nós inteiros, expostos em carne viva, escrevendo de um lugar geograficamente nosso. Neste local, onde as palavras saem sem censura, mora o nosso coração e ele bate mais forte à medida que desembrulhamos segredos. Aqui, tomamos posse de uma terra que ao longo dos anos fomos abandonando por medo de sofrer e deixamos a emoção correr solta... Neste pedaço de chão, não há espaço para mentiras, nem meias-verdades. No santuário desta solidão, estamos sozinhos, escutando apenas os sussurros da alma...

Por isso, resolvi roubar cartas de amor. Elas são um banquete para os meus olhos e uma culinária refinada para o meu viver. Estou cansada de ouvir mentiras, na calada da noite.

Um comentário:

Anônimo disse...

pretty nice blog, following :)