Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 28, 2014

Mil Dúvidas














Motivada pelas tentações da vida mundana, eu coloquei a menina sonhadora que sempre fui para dormir. Acomodei os sonhos românticos na gaveta da minha alma e tentei me adaptar aos tempos modernos. Hoje, uma nova mulher aflora dentro de mim... Ela, apesar de decidida e capaz de ir à busca dos seus desejos, ao se deparar com tantas tentações percebe, entretanto, que a vida segue sem muita graça e nenhum encanto... É que, em meio a toda essa sedução, algumas perguntas surgem em sua cabeça:

- O que fazer se o amor me pegar de assalto? E se o desejo se apossar do meu corpo como se fosse a minha primeira vez? E, continua se perguntando:

- Como conciliar o contraditório se, dentro mim, ainda hoje, caminham juntas a mulher moderna e a menina sonhadora? A qual das duas devo dar asas? Como dizer ao homem amado que aqui, no peito, tem um coração de menina ansioso por cartas, ternuras e declarações de amor, mas há, também, um corpo de mulher que arde, sedento e faminto, pelo toque das suas mãos? Como fazê-lo entender que nos meus sonhos o amor vai bordando delicadezas, que não se encaixam nesses tempos voláteis e de tão poucos sentimentos?

- Não sei! Mil e uma dúvidas. E, por isso essas perguntas.

julho 19, 2014

Direção Oposta














Ando na contramão do tempo, pedindo aos céus um pouco mais de dias e de insensatez, para desfazer as amarras que me prendem ao passado. Quero dar carta de alforria à louca que habita em mim e para qual eu nunca dei ouvidos, nem importância. Talvez ela seja, hoje, a minha versão mais completa, por isso quero beber toda a liberdade que eu sufoquei no corpo e na garganta, por anos a fio. Quero estrear na vida uma vida que eu nunca vivi... Cansei de encarcerar desejos e adiar sonhos. “Liberdade, liberdade abre as asas sobre mim.” Não quero mais pontuar as minhas palavras, com a hesitação dos meus medos. Cansei! Quero ver nascer outra pessoa em mim, enquanto há tempo... Às favas, com a escassez dos dias que me restam!

Ando na contramão do tempo, querendo aposentar essa senhorinha circunspecta a quem eu sempre dei abrigo, desde a mais tenra idade. Quero, agora, acordar livre, leve e solta para sair por aí empunhando a bandeira da liberdade e, para isso, desde já, vou tornar manifesto a cartilha dos meus desejos mais secretos:

- Vou fechar o meu coração para balanço e embriagar-me de vida, deixando que o prazer entre por todos os meus poros, inundando-me dessa coisa boa a que as pessoas dão o nome de paixão, embora que efêmera... Afinal de contas, amar é só um verbo... E, conjuga-se melhor no passado. Quero, sim, daqui por diante, sorver os dias que me restam em um só gole e deixar para trás aquela que sempre fui e não quero ser... Nunca mais!



“Liberdade, liberdade abre as asas sobre mim”, porque amar... Dói!


Imagem: Neli Araújo (Facebook)

julho 18, 2014

Um Tempo de Delicadeza














Hoje, amanheci querendo um tempo de delicadeza para minha alma cansada de tanto olhar indiferente e de tantas "certezas de pedra"... A morte, essa visita indesejável, a quem todos nós, um dia, vamos ter que abrir as portas, está fazendo cerca ao meu redor...

De repente, tudo perdeu o sentido: a pressa, a ansiedade, o orgulho, a vaidade, a mágoa e todos os sentimentos mesquinhos que carregamos, inutilmente, pela vida afora. Um olhar para trás e quanta tristeza! Quanto arrependimento! Quanta dor poderia ter sido evitada!? Mas, não! Nós, homo-sapiens, achamos que temos poder e controle sobre a vida e a morte. Pobres mortais! Quando nos damos conta lá se vão os dias, os bens, a fortuna e tudo o mais com que preenchemos o vazio das nossas vidas, achando que isso é felicidade.

Hoje, amanheci querendo um tempo de delicadeza. Quero olhar nos olhos dos meus filhos, do meu marido, do meu companheiro, dos meus irmãos, dos meus amigos, dos meus parentes, dos meus vizinhos e até daqueles que não gostam de mim e pedir-lhes um pouco mais de alma... Há tanta solidão ambulante precisando de ternura, de um sorriso e de uma mão amiga. Quantas vidas poderiam ser salvas se, ao invés de recolhermos, nós estendêssemos às mãos e emprestássemos os nossos ouvidos, para a escuta silenciosa das dores do outro. Quantas pessoas não estão, nesse momento, sozinhas nos leitos dos hospitais, nos asilos ou em suas próprias casas, precisando de um olhar compassivo e de um pouco de atenção. Amanhã, poderá ser tarde demais!

Por isso, é que hoje e, só por hoje, eu peço a vocês esse tempo de delicadeza. É que andei desarrumando as gavetas da minha memória e vi a inutilidade dos dias que desperdicei... Pois, como disse ILSE, um dia: “quando enfim, eu tive tempo, descobri que o meu tempo tinha acabado".


PS: Este texto é uma homenagem a Eugênio Pacelli, para quem todos os dias: é tempo de delicadeza.

julho 06, 2014

Tempos de Gaveta









Ando desarrumando gavetas e navegando por memórias antigas... Quero ter um encontro comigo, no passado, para ver o que mudou em mim. Alguém me disse: - você não tem mais vinte anos! E eu retruquei: - a minha pele e o meu corpo, não! Mas a minha alma desconhece os números e, sendo assim, não sente o girar dos ponteiros do relógio, tampouco o passar dos anos. Quando fecho os olhos e acesso o passado, tenho plena consciência de que parte de mim não mora mais ali, pois está preso a essa cadeira, enquanto escrevo, mas os sonhos, os desejos, as fantasias e os devaneios, estes, estão sendo tecidos pelas asas da minha imaginação e podem navegar em qualquer tempo. Por isso, não tenho idade... Tenho sonhos!

O meu corpo físico se ressente da passagem dos números, sim, senhor! Já não há agilidade para tantas estripulias, entretanto, se já não posso subir em árvores, nem escalar o Monte do Everest, posso sim, expandir a minha alma e resignificar a minha vida. E, para isso, eu preciso apenas de uma consciência ativa e uma mente aberta, porque, até onde eu sei, pele, carne e ossos não pensam...

Ando navegando por memórias antigas. Quero retirar desse tempo de gavetas, o que me resta de sonhos e torná-los reais, antes que a velocidade da banda larga me convença de que eu já fui... Não sou mais! Estou farta dessa época que desconhece delicadezas, imprime rótulos e engessa pessoas tirando-lhes o bem mais precioso que é o sonho, só porque convencionou-se que a juventude é detentora de um lugar no pódio da vida, a que os velhos não têm direitos. Estou farta, também, de ver a petulância dos jovens diante das pessoas de mais idade, como se elas fossem inaptas, assexuadas e descartáveis...

- Quem disse que só porque eu não tenho mais vinte anos devo escrever o capítulo final da minha história e abrir mão dos prazeres da vida, se a lucidez ainda me acompanha e a minha alma é um repositório de sonhos e desejos?

“Pensar é transgredir”, disse Lya Luft. Por isso, hoje, ao navegar pelas minhas memórias eu penso: tenho vinte anos sim, senhor, senão no corpo, mas na alma. E, segundo eu sei, é ela quem ama, deseja e faz a vida acontecer.


julho 01, 2014

Quimeras








Há muitas mulheres dentro de mim e, entre tantas, hoje, uma delas vem me visitar... A dama da noite, atrevida e cheia de quereres, pede licença e arde em sonhos... Se despe de pudores !

Uma volta no salão das suas quimeras e o tango argentino de Astor Piazzolla lhe convida a dançar. Rodopiando, ela se deixa conduzir pelo fogo da paixão e sem reservas se entrega: sou tua!