Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 18, 2014

Um Tempo de Delicadeza














Hoje, amanheci querendo um tempo de delicadeza para minha alma cansada de tanto olhar indiferente e de tantas "certezas de pedra"... A morte, essa visita indesejável, a quem todos nós, um dia, vamos ter que abrir as portas, está fazendo cerca ao meu redor...

De repente, tudo perdeu o sentido: a pressa, a ansiedade, o orgulho, a vaidade, a mágoa e todos os sentimentos mesquinhos que carregamos, inutilmente, pela vida afora. Um olhar para trás e quanta tristeza! Quanto arrependimento! Quanta dor poderia ter sido evitada!? Mas, não! Nós, homo-sapiens, achamos que temos poder e controle sobre a vida e a morte. Pobres mortais! Quando nos damos conta lá se vão os dias, os bens, a fortuna e tudo o mais com que preenchemos o vazio das nossas vidas, achando que isso é felicidade.

Hoje, amanheci querendo um tempo de delicadeza. Quero olhar nos olhos dos meus filhos, do meu marido, do meu companheiro, dos meus irmãos, dos meus amigos, dos meus parentes, dos meus vizinhos e até daqueles que não gostam de mim e pedir-lhes um pouco mais de alma... Há tanta solidão ambulante precisando de ternura, de um sorriso e de uma mão amiga. Quantas vidas poderiam ser salvas se, ao invés de recolhermos, nós estendêssemos às mãos e emprestássemos os nossos ouvidos, para a escuta silenciosa das dores do outro. Quantas pessoas não estão, nesse momento, sozinhas nos leitos dos hospitais, nos asilos ou em suas próprias casas, precisando de um olhar compassivo e de um pouco de atenção. Amanhã, poderá ser tarde demais!

Por isso, é que hoje e, só por hoje, eu peço a vocês esse tempo de delicadeza. É que andei desarrumando as gavetas da minha memória e vi a inutilidade dos dias que desperdicei... Pois, como disse ILSE, um dia: “quando enfim, eu tive tempo, descobri que o meu tempo tinha acabado".


PS: Este texto é uma homenagem a Eugênio Pacelli, para quem todos os dias: é tempo de delicadeza.

Um comentário:

Manu disse...

Amiga Julieta
Você tem o condão de escrever o que eu preciso de ler, parece que tivemos vidas paralelas.

Beijinhos Julieta