Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

setembro 28, 2014

Ao Poeta P.G

A princípio, no terreno das possibilidades, tudo o que eles buscavam era o amor, a poesia e uma cabana. Uma metáfora perfeita para justificar a felicidade e o desejo de caminharem juntos pelas sendas da vida.

Ela, uma escrevinhadora que gostava de brincar com as palavras. Ele, um nordestino acostumado à seca e ao cabo da enxada... Um retirante, um exilado da sua terra natal, que durante certo tempo procurou arar o solo infértil do sertão, à custa de muito suor e lágrimas, mas sem desviar os olhos do céu e das estrelas.

Um encontro improvável era o que se desenhava entre os mundos das letras e dos cabos das enxadas, pois ela sabia da força, do caráter e da tenacidade daquele homem. Ele saíra do nordeste, mas o nordeste nunca sairia de dentro dele. Carregaria por toda a vida uma saudade moldada por perdas e tristezas. Uma carta de condenação da qual ele jamais desejaria a alforria... Tinha um orgulho danado de ser nordestino! E, de tudo o que essa expressão carregava de significados...

O que ela não sabia, entretanto, é que ao olhar, lá atrás, com os pés ainda plantados no solo infértil do sertão, para o telhado da noite, ele já vislumbrava um porvir risonho. Sua conversa era um solilóquio e, entre um arado e outro, catava letras, juntava palavras e tecia sonhos. Nascia, assim, um poeta de mãos calejadas, que ia aprender no correr dos anos a despir-se em prosa e em versos. Nascia, também, naquela hora, o desejo de ser amado... Um amor faminto, urgente, latejante que viesse resgatá-lo, no futuro, das madrugadas de tédio, solidão, insônia e saudades.

Então, eis que, um dia, eles se conheceram por meio das letras. Um encontro na fase crepuscular das suas vidas. Ela, brincando com as palavras e vestida de esperança. Ele, de poeta... Um menino. Puro. Entregue... Nordestino.

setembro 14, 2014

O Crepúsculo








Rubem Alves, em seu livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola", nos ensina:

- "No crepúsculo, tomamos consciência da rapidez do tempo". Diz, também: - "Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos".

Penso que além de olharmos para o futuro com olhos mais ternos, também pedimos emprestado à vida linha e agulha, para recriar o bordado da nossa existência e, assim, poder limar a alma para que os últimos anos não nos pese tanto.

No crepúsculo, aprendemos a costurar as palavras com a linha do amor e as cores da tolerância, da paciência, da compaixão e da solidariedade. Alargamos o mundo de dentro e, dessa forma, damos abrigo a imensa tapeçaria de afetos, que vamos tecendo no decorrer dos dias que passam com rapidez, mas, agora, suavemente.

É só no ocaso da vida que deixamos de lado as certezas de pedra e o olhar cimentado construídos a respeito das pessoas. Nessa época, nos damos conta de que pequenas mágoas e velhos rancores só contribuíram para deixar os nossos dias mais pobres, esquecidos e sem afeto. São tempos de amargar tristezas e solidão.

Por isso, seguindo o conselho do grande mestre e escritor Rubem Alves, eu digo: - Vamos tomar consciência da finitude do tempo, pois esse é o melhor caminho para uma vida mais saudável e feliz. Não nos esqueçamos que orgulho, vaidade, mágoas e rancores descansam na mesma lápide que dá abrigo, também, aos nossos desafetos. Somos todos pó.

setembro 06, 2014

Sem Mapa... Sem GPS













O silêncio da folha de papel em branco é um terreno vasto pedindo que eu me descubra em letras. Inútil querer povoá-lo com a rapidez das palavras que chegam, pois dentro de mim há desertos... Zonas de silêncio que se comunicam e desenham a arquitetura das frases que eu não escrevo. E, que me definem.

As palavras amordaçadas sou eu... Eu, sempre em trânsito! Longe de mim.