Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

outubro 22, 2014

A Palavra, o Olhar e o Gesto











De todas as formas de comunicação a palavra talvez seja a mais traiçoeira, pois nem sempre expressa os verdadeiros anseios da nossa alma. Na linguagem oral, na escrita e na dos gestos ela tanto pode unir, seduzir e encantar, quanto dissimular, mentir e enganar provocando, assim, a quebra de confiança,  acarretando a perda de amores e de outros afetos. Mas, quando bem articulada e usada com honestidade e transparência, ela também pode nos salvar de nós mesmos: dos nossos medos e das nossas inseguranças.

Às vezes, bem sei que não é fácil usá-la com clareza, por que isto significa que temos que depor as nossas armas e ficarmos nus e indefesos diante do outro, porém, quando abrimos mão das máscaras e das roupas do personagem que usamos no dia a dia, em benefício de uma relação em que há amor, carinho, respeito e cumplicidade nós só temos a ganhar, porque damos ao outro a oportunidade de nos conhecer verdadeiramente e, como conseqüência, nos amar mais e melhor.

Ontem, faltou a palavra honesta, límpida e transparente. Faltou confiança. Confissão... Verdade. Procurei nos seus olhos um pedido de socorro... Fica! E, só encontrei o deserto do seu silêncio, da sua solidão e do seu medo diante do inevitável. Estendi a mão e o gesto ficou suspenso no ar. Então, não me restou alternativa a não ser dizer: não me procure mais. Adeus!



Imagem retirada do Facebook de Lis Costa. Um amiga que tem poesia no olhar.

outubro 14, 2014

Carta de Confissão












Uma nova carta está se desenhando, hoje, na alfaiataria de papel. As letras parecem pular saltitantes e felizes por que, enfim, deixam de lado o terreno das metáforas e das entrelinhas e assumem o comando semântico do vocabulário do amor.

Sem pudores e sem firulas eu confesso que amar não redimiu os meus erros, mas colocou à prova a minha capacidade de ser resiliente. Continuo a mesma menina impulsiva, apaixonada, esperançosa e entregue. Nada em mim mudou! Sou como uma rocha: estou sempre no mesmo lugar. Sou cais que acolhe e porto seguro para quem deseja desembarcar em terra firme... Ainda, hoje, beirando os sessenta e cinco anos de idade, olho-me no espelho e sinto um orgulho danado da paixão e do ardor com que se movem os meus dias. Vivo em estado de alegria e de esperança. Sou forte e aguerrida... Inteira! A cada decepção junto os meus cacos e me reconstruo em mosaico. Pedaços de mim lembram-me onde fui ferida e por quem, mas a plasticidade me ensina a lição da resiliência.

Então, eu reedifico o meu altar e rezo missa em minha homenagem. Tenho pena de quem me perdeu! E, antes que alguém me acuse de narcisista, eu informo: trabalhei durante muitos anos na construção do meu eu e aprendi a gostar muito da pessoa que me tornei, no entanto, não sou parâmetro, nem sirvo de referência para ninguém. Sou demasiadamente humana!

Houve um tempo em que gostar causava-me profundo sofrimento. Tinha o corpo em carne viva e o coração lesionado por causa disso, pois amar era uma parte da minha alegria e a outra era contar os dias para encurtar distâncias, porque alguém estava sempre de partida! E, eu, menina em flor, desejava o renascimento no seu corpo... Levava horas desenhando as letras do alfabeto com confissões de um amor rasgado, assumido. Eram páginas e mais páginas encharcadas do mais puro sentimento. Sentia saudades e, por isso, usava e abusava da semântica. As palavras tinham força e significado. Amar era verbo conjugado no passado, no presente e no futuro. Eternamente! Mas, foi tudo em vão...

Porém, hoje, mesmo depois de uma longa espera e de vários cacos espalhados pelo caminho, as letras continuam pulando felizes e saltitantes, bordando esperanças na folha de papel em branco. É que eu ainda vivo como um pássaro em voo, procurando sempre por certezas geográficas, para pousar e entregar o meu imenso amor a quem fizer por merecê-lo... Sou resiliente! E, além do mais, confesso: continuo com pena de quem me perdeu!