Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

junho 08, 2014

Engarrafando o Vento


        



Numa manhã de segunda-feira, do mês de maio, eu caminhava pela beira-mar quando encontrei uma garrafa plástica, entre os sargaços. De imediato, coloquei-a na mão direita e saí engarrafando o vento, embora o meu desejo fosse guardar sonhos para vê-los florescer no futuro.

O marulho das águas, o som do vento engarrafado e a solidão do caminho atraíram o meu olhar para o horizonte e eu quis saber, naquela hora, o que me esperava no além-mar: fios de esperança ou farrapos da minha ilusão?

No silêncio do verbo esperei a resposta e segui, pensativa, rasgando o manto d'água que cobria os meus pés... Ao longe, um barco seguia o seu curso, tão solitário quanto o meu. Então, comecei a costurar as minhas lembranças e escrevi na areia da praia: viver será sempre sentir fome da tua presença. Ainda, pensando sobre isto, lembrei de uma frase que li: - a história não tem freio... Não, não tem! Mas, a minha não terá outra versão. Ela será contada, eternamente, enquanto eu folhear o meu dossiê interno e perceber que a dor do abandono, ainda me assombra e dói como da primeira vez.

Por isso, naquele momento em que eu caminhava pela beira-mar, engarrafando o vento, os meus olhos acordaram sonhos e esperançosos, quiseram saber: - o que me espera no além-mar: fios de esperança ou farrapos da minha ilusão?