Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 06, 2014

Tempos de Gaveta









Ando desarrumando gavetas e navegando por memórias antigas... Quero ter um encontro comigo, no passado, para ver o que mudou em mim. Alguém me disse: - você não tem mais vinte anos! E eu retruquei: - a minha pele e o meu corpo, não! Mas a minha alma desconhece os números e, sendo assim, não sente o girar dos ponteiros do relógio, tampouco o passar dos anos. Quando fecho os olhos e acesso o passado, tenho plena consciência de que parte de mim não mora mais ali, pois está preso a essa cadeira, enquanto escrevo, mas os sonhos, os desejos, as fantasias e os devaneios, estes, estão sendo tecidos pelas asas da minha imaginação e podem navegar em qualquer tempo. Por isso, não tenho idade... Tenho sonhos!

O meu corpo físico se ressente da passagem dos números, sim, senhor! Já não há agilidade para tantas estripulias, entretanto, se já não posso subir em árvores, nem escalar o Monte do Everest, posso sim, expandir a minha alma e resignificar a minha vida. E, para isso, eu preciso apenas de uma consciência ativa e uma mente aberta, porque, até onde eu sei, pele, carne e ossos não pensam...

Ando navegando por memórias antigas. Quero retirar desse tempo de gavetas, o que me resta de sonhos e torná-los reais, antes que a velocidade da banda larga me convença de que eu já fui... Não sou mais! Estou farta dessa época que desconhece delicadezas, imprime rótulos e engessa pessoas tirando-lhes o bem mais precioso que é o sonho, só porque convencionou-se que a juventude é detentora de um lugar no pódio da vida, a que os velhos não têm direitos. Estou farta, também, de ver a petulância dos jovens diante das pessoas de mais idade, como se elas fossem inaptas, assexuadas e descartáveis...

- Quem disse que só porque eu não tenho mais vinte anos devo escrever o capítulo final da minha história e abrir mão dos prazeres da vida, se a lucidez ainda me acompanha e a minha alma é um repositório de sonhos e desejos?

“Pensar é transgredir”, disse Lya Luft. Por isso, hoje, ao navegar pelas minhas memórias eu penso: tenho vinte anos sim, senhor, senão no corpo, mas na alma. E, segundo eu sei, é ela quem ama, deseja e faz a vida acontecer.