Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

junho 19, 2015

O Recado


Hoje, vou economizar letras e sinais de pontuação. O recado abaixo é curto, simples e definitivo. 

Sob a proteção das palavras, eu enceno uma peça que não é minha, represento um papel e visto um personagem que não cabe em mim. Sou toda reticências. Brinco com a utopia. Então, se me perguntas quem eu sou, respondo: - sou o não dito. As palavras não me representam, nem me definem, pelo contrário, são letras mortas que um dia afligiram a minha alma, cortaram-me a carne e alinhavaram uma solidão escolhida. Por isso, quero deixar um recado: não alimentes a tua vaidade, tampouco o teu orgulho com as frases de um amor que a essa altura não existe mais, pois quando o celular toca e vejo que és tu, opto pelo silêncio. O corpo ainda pulsa e dói. Sinto a tua falta! Mas, decidi: antes só do que mal acompanhada... Cansei de amores requentados e da tua covardia. Não me telefones mais!

junho 12, 2015

Uma Carta para Santo Antônio













Entre mim e Santo Antônio existe uma zona de desconforto. Uma conversa de silêncios, onde o tempo é tecido em fios de esperança de que um dia tudo dará certo. Pedi-lhe a graça de arranjar um namorado e o Santo Milagreiro insistiu em mandar um homem para casar. Recusei, mas continuei com a petição: quero um namorado! Então, percebendo-lhe a impaciência diante das minhas negativas, não me contive e enviei-lhe a mensagem abaixo para acabar de vez com a nossa querela, antes que o Divino resolvesse interceder e me condenasse à solidão perpétua.

Querido Santo Antônio,

não fique zangado comigo, pois se casamento fosse bom você não teria escolhido o celibatário. Esse compromisso, querido santo, não nasceu para a eternidade. Ele anda se esgueirando de quem, como eu, gosta de colecionar ilusões, por isso, nesse momento, tudo o que desejo é alguém para namorar! Namorar, sim, é uma alegria, um jardim cheio de flores, um bilhete premiado. É o céu aqui na terra! Você já percebeu que durante o período de namoro os verbos são sempre conjugados em uníssono? Tudo é acordado, dividido, partilhado: alegrias, sucesso, tristezas e dores. O outro, aquele que nós escolhemos por livre e espontânea vontade, entre tantos, é a moldura certa para o nosso retrato. Juntos, fazemos planos, projetos e contabilizamos perdas e ganhos. Juntos, arrumamos a casa do futuro. Tudo é na base do só vou se você for. A união é perfeita, até o dia em que despertamos com o outro instalado na nossa cama, na nossa casa e percebemos que não era bem isso o que queríamos. Assustados, irritados, surpresos, perguntamos: quem é essa/esse estranho que dorme ao meu lado? O que foi que eu fiz com a minha vida? Em que esquina perdi a minha liberdade? A partir desse dia, o outro cheira a naftalina e o que sobra como herança de uma relação, que antes era tão perfeita, é um pote até aqui de mágoas. O amor passa a ser um rascunho, um desenho mal acabado de um projeto que não vingou. Daí em diante, tudo perde a forma, a cor, a alegria e implicamos com qualquer bobagem, com coisas de somenos importância. Agora, o príncipe é um sapo e a cinderela a gata borralheira, quando não, o nosso maior inimigo e, para nos proteger, colocamos cercas ao nosso redor, nos distanciando cada vez mais. Nesse instante, olhamos nos olhos um do outro e percebemos que ali não há mais sentimento, afeto, respeito e admiração. Perdemos a chave da casa e do coração. É o fim! Por isso, meu querido santinho, nesse dia dos namorados, eu lhe peço: desista de me casar e envie-me logo um namorado que seja: trabalhador, honesto, viril, inteligente, bonito, sarado, tolerante, paciente e submisso. E, de quebra, que não goste de discutir a relação, para que, num futuro próximo, eu possa substituí-lo quando algo não me agradar, pois eu quero mais é ser feliz e namorar, namorar, namorar... Obrigada!



Crédito de Imagem: Dikkat Sanat Var