Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

outubro 25, 2015

O Outro - Um Reflexo de Mim
















O silêncio da página em branco me toma de assalto novamente. De repente, falta-me assunto para costurar as palavras e as horas correm céleres lembrando-me do compromisso que assumi comigo mesma de escrever pelo menos um texto por mês, para alimentar o meu blog, “Reconstruindo Caminhos”. Na verdade, não é que faltem temas palpitantes, o que ocorre é que vivemos uma época em que nada do que é dito é mais novidade. Tudo já foi escrito a respeito de tudo. Nas páginas dos jornais, revistas, livros e em outros meios de comunicação abundam sangue, suor, lágrimas e indignação pelas injustiças e despautérios. São poucas as alegrias! E são tantos os absurdos, que não me parece desatino dizer que a humanidade está no limiar da irracionalidade, pois a lâmina do verbo corta a nossa carne todos os dias com as suas manchetes sangrentas e lacrimosas, enquanto seguimos lépidos e fagueiros ignorando as palavras, como se nada daquilo pudesse nos atingir. Imaginamos que é sempre na casa do outro que a dor bate primeiro. O outro, esse corpo ausente, mesmo que passeie todos os dias diante dos nossos olhos e de quem nós só escutamos falar, porque estamos sempre muito envolvidos com os nossos pequenos dramas e espelhos. O outro, esse ser invisível a quem chamamos muitas vezes de amigo, de irmão, porque habitamos o mesmo planeta, mas para quem não voltamos o nosso olhar compassivo, nem a nossa condescendência. E, quando falo aqui de compaixão e compreensão, não me refiro ao acolhimento das diferenças de gênero, raça ou etnia, pois isso é coisa natural em quem é emocionalmente equilibrado. Falo, principalmente, de fazer ao outro aquilo que gostaríamos que fizessem a nós mesmos, porque em algum momento da nossa vida a fatura dessa conta vai chegar, lembrando-nos que somos responsáveis uns pelos outros e que a verdadeira justiça é receber de volta todo o bem que fizemos em forma de amor, carinho, compreensão... Não é à toa que temos conforto nas palavras da Bíblia: “porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”.

Por isso, quando olho para o relógio e vejo o tempo presente sendo desembrulhado e os instantes se desalinhando numa corrida veloz, permito-me reescrever o que já foi dito, para desembotar a razão. Dessa forma, mais uma vez pergunto-me: que tempo é esse que nos faz cegos, surdos e mudos ao sofrimento alheio? Por que agimos como Narciso, achando feio o que não é espelho? Para onde vamos nessa maratona sem fim, de vaidades e orgulhos descabidos? E quais serão os efeitos dessa competição, quando chegar o ocaso de nossa vida? Estaremos sozinhos ou cercados de afeto e carinho? Se sozinhos, de que nos valerá títulos, posses e dinheiro? Para onde irmos? E que mão nos guiará, quando os nossos passos estiverem trôpegos? Essas são interrogações que precisam de respostas rápidas e honestas, pois chegará o momento em que nos lembraremos de nós e do outro, duas faces da mesma moeda. E, ao ser medido, teremos de volta o bem que fizemos ou mal que causamos. Não se trata de olho por olho e dente por dente. Essa é a justiça em que acredito: recebo de volta tudo aquilo que ofereço ao outro... Diante disso, sinto-me responsável pelas escolhas, comentários e atitudes que tenho a favor ou contra o meu amigo-irmão. Essa é a lei mais justa, porque me tira da zona de conforto, onde sempre me coloco como vítima, e me faz refletir na responsabilidade que eu também tenho de manter o diálogo, a concórdia... A paz!