Da varanda da sua casa ela espreitava o caminho. O seu olhar varria ruas e dobrava esquinas na esperança de que ele aparecesse. Contava as horas, os minutos e os segundos. Precisava da sua presença para amenizar a saudade que a consumia... De repente, como num passe de mágica, ele surgia em sua farda azul e amarela, trazendo nas mãos um amontoado de sonhos.
Era o carteiro, mensageiro de tantas ilusões!
Hoje, ao abrir o armário do seu quarto ela encontra palavras guardadas na gaveta. Pega-as e fica absolutamente entregue às suas lembranças... Pede emprestado à memória um tempo feliz e faz as pazes com o passado!
Já não lhe dói tanto ter amado sozinha durante todo esse tempo, pois a geografia do amor tem os seus acidentes de percurso e além do mais, nessa hora, uma colcha de retalhos feita de boas recordações lhe apazigua a alma aquecendo-a por dentro. Olha outra vez para suas saudades engavetadas; lembra do tempo passado, do carteiro, das ilusões e faz um inventário do seu amor! Reedita lembranças e pensa: “foi eterno enquanto durou.” Depois disso, fecha a gaveta, dá um sorriso e diz: agora eu estou pronta... Aceito! E começa a ser feliz outra vez...