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Na quietude da solidão abissal que se espalha por espaços, onde antes morava o riso e a alegria, eu teço lembranças. O fio condutor dessa trama é a síndrome do ninho vazio. E agora, José? O que fazer com os meus braços que, de tão poucos abraços, pendem inertes e vazios? E do silêncio que desafia as horas tornando eternos os minutos que passam?
O tempo, sempre ele... Algoz! Sorri das minhas saudades umedecidas, faz pouco caso da solidão em que me encontro, e acha graça no poema que entôo, para afugentar essa dor que tem nome: meus filhos!
"Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?”
Tinha razão o poeta Vinicius, quando cantou em versos todas as agruras que iríamos passar, a partir do momento em que decidíssemos acolitar os primeiros passos desses pequenos seres que colocamos no mundo. E, também, Chico Buarque, quando escreveu: “o tempo passou na janela e só Carolina não viu...” É, ‘Seu Chico’, ele passou voando por entre mamadeiras, brinquedos, adolescências, livros e becas, e eu, debruçada na janela, distraí-me vendo a banda passar e não me dei conta que o tempo urgia.
E agora, José? É a pergunta que me faço todos os dias, quando as lágrimas substituem o riso e constato que “naquela mesa tá faltando ele(s) e a saudade dele(s) tá doendo em mim.”
O que fazer com tanto amor, tantas lembranças e esse espaço vazio? Respondo: - Para saudade, recorro às palavras tentando minimizar a dor das ausências, e para o amor, faço a expurgação do egoísmo, libertando-os para a vida: sigam os seus caminhos, meus filhos! O amor que sinto é maior que eu, e tem gosto de liberdade... Tomem as suas asas, se elas não lhes forem suficientes eu empresto as minhas e, de quebra, lhes ofereço a minha coragem de amar e deixar partir. Sejam felizes! Eu estou bem.