
É incrível como certas lembranças se perpetuam em nossa memória. Elas tomam posse da nossa alma e dão abrigo aos nossos sonhos sem-teto.
Sinto ainda hoje o cheiro, o gosto e o som do primeiro beijo: tinha o perfume das flores, o sabor de um pomar inteiro molhado de chuva, e o som de uma orquestra sinfônica, em andamento, disputando alegria com o pulsar do meu coração. Ah! Quanta felicidade e festa em minha vida! Chovia, fazia sol, e o astro rei dava passagem ao arco-íris que vinha trazer encantos para saudar o primeiro amor. Na passarela das minhas lembranças, agora, as imagens se sobrepõem: depois do beijo, um desencontro, saudades partidas de um amor que não floresceu. Sonho sem-teto, esperança perdida e pedaços de desejos esquecidos, na varanda da casa solidão, adormeceram em mim.