Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

junho 08, 2012

Segredos de Confessionário




No teclado, as letras fora da ordem alfabética, lembram-me o lúdico e, instintivamente, quero brincar com as palavras, mas olho para elas e, dentro do meu silêncio tagarela, penso: este é o momento certo para juntar-lhes as notas musicais dos meus gemidos e compor uma linda canção de amor. 

Porém, hesito, pois apropriar-me das palavras e assumi-las como senhora dos meus sonhos e dos meus desejos leva-me, inevitavelmente, a escrever segredos de confessionário.

- Será que estou pronta para fazê-lo, pergunto-me!? E, antes que a dúvida amordace novamente as minhas frases, deixo que as minhas mãos deslizem pelo teclado, libertando-as. Hoje, darei carta de alforria aos meus pensamentos. Vou revelar o meu segredo.

- Amei-o tanto e tão profundamente que esqueci de mim. Dediquei os melhores anos da minha juventude a uma esperança estéril, irmã gêmea do abandono ao qual me entreguei, quando, por minha livre e espontânea vontade, alimentei ilusões de poder reconstruir os caminhos por onde, um dia, desfilou o nosso amor de ontem.

Ontem, tempo pretérito, passado que não passa, pois ainda que lhe reconheçamos o cheiro de naftalina e a fragilidade dos sonhos, falta-nos o alicerce da vontade para admitir que: só é nosso aquilo que possuímos. E, eu nunca o tive. Faltou entrega, mas muito mais do que isso, faltou honestidade e atitude. Sobrou covardia!

Não lhe cobrei royalty por alimentar a sua vaidade com o meu amor, e sim, dignidade e respeito, pois não lhe bati à porta com um pires na mão, apenas amei-o em silêncio, por um longo tempo. Tempo que um dia se esgota sem arrependimentos nem mais saudades, pois venho descobrindo que gosto mesmo é de falar de amor...