
No dia dois do mês em curso, fui ao cinema assistir ao filme “O amor nos tempos do cólera” baseado no livro de Gabriel García Márquez, de título homônimo.
Em sua primeira cena, o protagonista, na pessoa do ator Javier Bardem, diz: “Fermina, eu te esperei por 51 anos, tantos meses e alguns dias” (não lembro os meses nem os dias). Silêncio na platéia, interrogações no ar. Assombro geral numa geração tão acostumada ao provisório, ao descartável e a impermanência.
Como pode alguém amar por tanto tempo e ficar em estado de “espera” como se fora presenteado pelo sentimento de infinitude e pelo tempo da eternidade? Eu lhes respondo: amar é simples assim! Ama-se o outro, não por sua conta bancária, pelo seu nome de família, pelo seu status na sociedade ou pelos títulos acadêmicos que carrega pela vida afora. Ama-se o outro nu, como folha de papel em branco, na qual cada um escreve a sua própria história. Ama-se o outro com admiração pelos seus grandes feitos e também pelos seus desacertos, que é uma parte integrante de sua humanidade. Ama-se o outro pela beleza do seu caráter, pelo seu olhar franco e por sua honestidade. Ama-se o outro em estado de ternura quem esquece de si mesmo e procura na soma “tu e eu”, a simbologia do nós. E o nós só existe quando conjugamos o verbo assim: “Eu te esperei por todo esse tempo, porque fazes parte de mim”. E não há submissão ‘em fazer parte’, pois pela lógica matemática, um mais um, somam-se.
Não acredito em amor que divide, que se envaidece, que se orgulha. Não acredito em amor de conveniência. A soma do que é meu, mais o que é teu, é igual à riqueza material, a patrimônio. São bens de família! Não são afetos obtidos pelo cortejar e pela delicadeza.
Amar é construir ternuras, é apostar no carinho, é olhar para outro como se olhasse para si e encontrar nessa possibilidade um ajuste de egos e um encontro de amor. Só desta forma o amor funciona, porque amar é simples assim.