
Meu passaporte para sair de você, amor, são as palavras, e feito escrava em sua senzala eu anseio pela liberdade, que um dia elas hão de me dar. Andei negociando a minha carta de alforria rumo à terra da felicidade, mas ela me foi negada.
Por que falar de amor é a minha sina? Andei sondando a possibilidade de levar o meu coração para fazer o ‘recall,’ e em troca eu daria – além dele – uma mega-sena inteira pelo direito de adquirir um coração vagabundo, mas isso também me foi recusado.
Como uma bomba de efeito retardado, o amor explodiu em minha vida e me levou a crer que seria único e inalienável, não deixando espaço às palavras para contestação. Puro engodo, propaganda enganosa.
Há tempos, que tento argumentar, fazer valer os meus direitos, recorri até a um ‘habeas corpus’ para me livrar das ilusões, mas feito sentença transitada em julgado – da qual não cabe recurso – eu fui aprisionada em um dicionário, onde só existem palavras de amor.
Foi aí que pensei: ah, quisera poder desfolhar todas as pétalas de rosas, ainda que politicamente incorreto, para fazer uma passarela onde o amor pudesse caminhar livre, leve e solto - como antigamente - mas não acredito mais, que ele possa existir! Na passarela atapetada por onde, hoje, os meus sonhos desfilam, eu fui procurar por ele e não o encontrei... Enfim estava livre, pensei! Doce ilusão, o amor perdeu o chão, mas foi procurar abrigo nas estrelas e é de lá que ele me manda notícias, sempre, nas minhas noites de solidão.