Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

maio 26, 2014

Um Ponto de Interrogação

Que queres mais de mim?
Se na hora que eu preciso de ti,
tu és tão somente... Um homem?

Quando vou à igreja eu sou a santa;
quando dobro a esquina, a pecadora.
No lar sou dona de casa;
na rua, se me procuras, sou a outra.
De dia sou a mãe de família;
quando entardece, sou a dama da noite.

Se me falas de política, sou eleitora.
De economia, teu banco.
Se chove, sou guarda-chuva.
Se estais sem abrigo, teu teto.
Quando sofres, sou tua amiga.
Se queres colo, sou tua mãe.
Quando adoeces, sou teu remédio.
E se choras, sou teu perdão.

Que queres mais de mim?
Se na hora que eu preciso de ti,
tu és apenas isto... Uma interrogação.

maio 24, 2014

Silêncio


Não leia as minhas palavras. 
Elas só contam mentiras.
Observe o meu silêncio,
pois ele está cheio de intenções e
de desejos postergados.
E, tem pressa!

maio 22, 2014

Palavras













Não se dê tanta importância,
nem me leve tão a sério.
O que escrevo só tem valor,
se estiver em contrato.
Gosto de brincar com as palavras.

maio 21, 2014

Surto de Memória











Selei o meu destino nos bordados da imaginação,
por isso alinhavo palavras, 
enquanto percorro os verdes campos das minhas lembranças.

Hoje, sou sarça ardente...
Tenho olhos de pedinte e um corpo,
esse vulcão em brasa, faminto!
Nesse momento, o meu nome é saudade.

maio 20, 2014

O Bilhete


Meu caro amigo,

Com a rebeldia das palavras comprei a minha carta de alforria. Agora, sou uma casa desabitada. Quem quiser me visitar, daqui por diante, que tire o pó do caminho e entre com delicadeza na minha vida. Mas, não me venha com rótulos, nem com estereótipos de gênero, pois aprendi muito bem a me virar sozinha. Também, no meu novo lar, não aceito alguém que, apesar da passagem dos anos, ainda não desceu do playground. Dispenso gente que gosta de jogos de sedução e de subterfúgios. Só sei amar de cara limpa: entregue! Quem quiser mistério que procure a Agatha Christie. É isso aí... Ponto final!

maio 18, 2014

O Segredo dos seus Olhos



“Os olhos falam demais. Às vezes, é melhor não olhar”.


O título que dá nome a este texto ganhou o “Oscar” de melhor filme estrangeiro em 2009 e, salvo engano, baseou-se em fatos ocorridos há 25 anos, na Argentina.

Lembrei-me dele, hoje, ao constatar o quanto as pessoas se mostram felizes nas redes sociais e nas capas de revistas da atualidade. Felicidade, agora, é um sorriso permanente na máscara que usamos para mostrar ao mundo o quanto estamos bem. Um clique no celular e ela aparece como num passe de mágica nas fotos, nos eventos e nas colunas sociais. Depois disso, é só exibir, alardear e o mundo ficará sabendo o quanto estamos plenos e realizados mesmo que, por dentro, estejamos sangrando...

Mas, e os olhos? Ah! Estes falam demais e como diz acima, às vezes, é melhor não olhar, porque podemos trocar de casa, carro, telefone, emprego... Menos de paixão, pois quando ela nos envolve o nosso olhar denuncia e se torna real a felicidade que apresentamos.

Por isso, é triste ver a plasticidade dos sorrisos falsos e o bem-estar fraudulento que insistimos em levar adiante, só para divulgar ao mundo o quanto estamos bem. É lamentável, também, constatar que, apesar das evidências, ela, a felicidade, estará visível no instante desejado, bastando apenas um clique no celular para tirar a foto e outro para enviar, visto que, dessa forma, o mundo jamais conhecerá o segredo dos nossos olhos.

maio 09, 2014

Quero um Amor sem Fraude






Vem ao meu encontro e recolhe os beijos e abraços, que ficaram retidos na memória do teu desejo. 
Vem desembrulhar segredos, antes que amanheça e se faça tarde...

Não quero mais a sombra do passado rondando os nossos dias. Toma a senha de acesso - do tempo presente - e, lê o avesso das palavras que eu escrevi. Quero um amor sem fraude!

Vem, antes que amanheça e se faça tarde... A noite nos espera! Vem, antes que eu te esqueça!

maio 07, 2014

Tempo de Acordar Lembranças










Uma cortina de chuva veste o instante de saudades e a tristeza põe-se de pé dentro de mim. Nessa hora, o tempo é um rio que corre e leva-me para algum lugar do passado. Começo a alinhavar as letras com cuidado, deixando que os meus dedos, em carne viva, escrevam apoesia sem pele do meu cotidiano.

Sobre a mesa repousam o lápis e o papel, objetos com os quais eu costuro os meus retalhos de saudades. Olho-os e penso: tenho nas mãos a festa, a alegria e no peito, a morte, a agonia. A folha de papel em branco convida-me a escrever, mas a cortina de chuva desvia a minha atenção e o parto da criação é interrompido pela sedução do olhar que serpenteia, agora, pelo rio da minha emoção. São tantas as lembranças! A chuva acordou saudades... Chove, também, nos meus olhos. Tenho no peito a morte, a agonia.

Um som plangente ecoa na solidão do meu silêncio... É o passado, essa saudade agridoce, fazendo-me viajar em pensamentos. Voo na contramão do tempo e perambulo pelos espaços dentro de mim. Procuro gavetas! Abro-as, reviro-as e, só então, começo a costurar os meus retalhos de saudades.

É tempo de acordar lembranças!

PS: As frases em itálico são títulos de livros dos autores: Lya Luft e Lau Siqueira, respectivamente.