
Pelas frestas da memória visito o meu estoque de recordações, faço um inventário das minhas saudades e penso: construir-me é um processo difícil e doloroso, pois a vida e as suas urgências tentam me ensinar a abrir mão de pessoas, coisas e lugares e eu não consigo.
Já faz algum tempo que, intimada pelo carinho dos meus filhos, resolvi fazer uma faxina em meus porões. Lá, encontrei um baú repleto de lembranças que me expôs o que chamo de minha pátria de intimidades. Nessa ocasião, remexendo em velhas fotografias, cartas de amor e pedaços de carinhos, pensei: na minha vida ninguém está de passagem e, por isso, em meus afetos também não há prazos de validade.
Como posso esquecer as pessoas que partiram encantadas pelo brilho das estrelas? E as outras que, acreditando nas promessas do porvir, permaneceram ao meu lado desafiando o tempo da esperança?
Como deixar de ouvir palavras alinhavadas em ternuras - antecipando carinhos - e sentir cheiros que ficaram guardados no sítio da memória?
Como não revisitar lugares que remetem a uma alegria escancarada, se em todas as minhas lembranças há sempre um rastro de felicidade?
Por tudo isso, parece que o meu destino é não aprender a dizer adeus, pois no enredo da minha vida não há um alvará de soltura para a saudade.