Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

maio 06, 2012

A Vida em Pequenos Gestos



Em dias de temporal... Sou criança! As lágrimas do céu purificam-me deixando-me em estado de leveza e quietude. Deixo-me seduzir pelas lembranças e o meu avesso sai a passear com o adulto que eu me tornei. É a oportunidade que tenho de lavar a minha alma, de corrigir o meu percurso e de observar a vida em seus pequenos gestos.

Em dias de temporal... Sou menina! Desligo a TV, não leio jornais nem revistas, não quero saber da crise por que passa o mercado internacional, tampouco sobre a última cotação do dólar. Não viajo nem olho vitrines! Em dias de temporal... Já disse: sou menina! Pego a vida pelas mãos e saímos a passear por aí, procurando alguém de sorriso e coração abertos para alegrar o dia e apaziguar a alma.

A vida em flash de memórias convida-me a olhar lá fora e tal qual um filme em preto e branco revejo-a como ela é: uma sucessão de acontecimentos, uma roda gigante que não para de rodar, intercalando movimentos de subida e descida para nos mostrar que nada é para sempre; nem as tristezas nem as alegrias, somente as boas lembranças... Essas, sim, oriundas dos pequenos gestos, são as responsáveis por encherem os nossos dias de uma alegria inefável. 

Olho ao redor e me detenho a observar o vaivém das pessoas, que em movimentos frenéticos ligam á TV; leem jornais e revistas, apressadamente; acompanham as notícias do mercado cambial através da internet e certificam-se das últimas decisões do governo. Viajam e olham vitrines... Diariamente!

Então, eu penso: se tudo se repete e se a roda gigante em sua subida e descida nos faz enxergar as oscilações do nosso viver, por que será que não nos damos conta de que somos viajantes de uma terra onde a felicidade só se encaixa nos pequenos gestos? 

Nessa hora, desejo que um temporal desça sobre mim e lave a minha casa de dentro inundando espaços e porões, por onde as teias de aranha teceram certezas de que a vida é só essa repetição de fatos... Já não sou adulto! A criança que há em mim deixou-se seduzir pelas lágrimas do céu e descobriu a vida em seus pequenos gestos.