Tem dias que eu amordaço as palavras porque elas insistem em chamar teu nome. Nessa hora, eu vejo pelo espelho retrovisor e percebo que ainda tem muito sofrimento na nossa história, por isso eu desisti do amor.
Olho para a tela em branco do computador e penso em quantas vezes já escrevi, que tu eras uma página virada no livro da minha vida, para, logo em seguida, deixar que as letras do alfabeto me traiam e deixem explícito o que teimo tanto em esconder... Se a tela fosse uma folha de papel eu a rasgaria só para não ter de confessar, que as minhas frases se vestem de ternura toda vez que penso em ti e, que, nesse instante, a emoção me domina... É que o tempo atropela as horas e o que era dor vira saudade, pois não há como estornar as boas lembranças.
No entanto, um passeio discreto e silencioso pela galeria da memória traz de volta tudo o que passei e eu, enfim, redijo aqui a razão do fracasso do nosso amor de ontem.
Houve uma época em que eu fui cais... Sempre a tua espera. Cumpria a rotina das horas: vestia-me de chita durante o dia e guardava os melhores lingeries para usá-los à noite. Esmerava-me na escolha de bons vinhos, lia jornais e devorava livros. Queria ter assunto após o banquete do amor.
Durante anos, fui à luta e participei ativamente das manifestações populares do nosso país em busca de dias melhores. Lutei por cada centavo desviado dos cofres públicos e por melhores salários. Fiz boicote contra o preço do tomate e protestei, entre outras coisas, quando a conta de luz aumentou. Tudo isso, porque queria de ti o respeito e a admiração.
Dos velhos tempos dei um salto para a pós-modernidade e atualizei-me a respeito das mais novas tecnologias. Fui, também, a encontros literários, discuti sobre a política vigente, tomei ciência da economia do país e das recentes descobertas sobre os mecanismos da mente humana... Queria poder ajudar-te em teus conflitos existenciais.
Por meses a fio desvelei-me em cuidados e carinhos à beira da tua cama. Alimentei-te com a garra, o sangue e o suor da minha esperança para que tu não desistisses de viver... Reinventei-me! Fui tua mulher, tua amante e tua amiga. Fui teu colo e minha morte, pois me esqueci...
Quando, enfim, eu já havia feito de tudo um pouco para dar provas do meu sentimento, tu foste embora. Aí, eu pensei: - ninguém gosta de eternidade!
Por isso, eu desisti do amor.
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