Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

maio 08, 2023

O Valor de um Sonho

 












Há dias eu acordei com esta sentença ecoando em minha cabeça:- A vida é, antes de tudo, explicação!

Não entendi, de imediato, o porquê das letras se fazerem inquilinas do meu cérebro, sem pagar aluguel e, ainda por cima, obrigarem-me, depois de desperta, a costurar acordos com a minha consciência a busca de uma explicação. Na sequência da frase acima, duas questões surgiram-me à mente.

- Você é feliz?

- Pagou o preço pelos seus sonhos?

Então, pensando sobre isso, eu fiz esta reflexão:

Durante boa parte da juventude, nós ignoramos as engrenagens que põem os ponteiros do relógio em funcionamento. Deambulamos pelas ruas e avenidas sem lenço e sem documento. A princípio, levadas pelo frescor dos primeiros anos, desconhecemos o valor das horas. Não temos pressa em ser felizes, nem passamos em revista o cotidiano porque acreditamos ter todo o tempo do mundo para fazê-lo. Nesta fase, as vozes da razão sempre silenciam quando o assunto é o tempo que urge.

Decorridas algumas décadas, fazemo-nos as mesmas perguntas:

- Fomos felizes?

- Pagamos o preço que os nossos sonhos exigiram?

Nesta ocasião, a consciência que temos sobre o tempo pretérito sugere que pensemos mais sobre o assunto. Surgem novas interrogações:

- Em que lugar está escondido este contentamento, se o tempo futuro continua escorrendo pelos nossos dedos e parece arremessar sonhos e felicidades para longe de nós?

As horas, agora, parecem correr na velocidade da luz, enquanto continuamos a nos questionar.

- Em que lugar perdemos o bonde da história ou deixamos de montar no cavalo que passou encilhado?

Aí, entendemos o sentido da frase: a vida é, antes de tudo, explicação.

Acreditar nos sonhos é tão importante quanto vivê-los. Deixar o cavalo passar ao largo sem montá-lo é um preço alto que pagamos por desistir daquilo que nos faz felizes.

Existem pessoas que cavam a unhas e dentes oportunidades que a outras são oferecidas de graça. Àquelas lhes faltam tudo ou quase tudo. Mas, a coragem para ir a busca dos seus sonhos é combustível que inflama o corpo e o espírito. E elas correm como lobos atrás daquilo que alimenta as suas almas. Outras passam a vida adiando, silenciando desejos e ignorando os ponteiros céleres do relógio da vida.

Por estas e por outras razões, devemos ou não pagar o valor exigido pelos nossos sonhos?

- A resposta é simples e está dentro de nós desde sempre.

Pensemos sobre os nossos desejos mais íntimos e tomemos a decisão que vai mudar o rumo das nossas vidas lembrando-nos, porém, de que a ela - a decisão – e, as suas consequências, são de nossa inteira responsabilidade. Não devemos esperar que a vida mude, nem que a felicidade chegue sem esforço, tampouco que tudo aconteça como num passe de mágica. Devemos pagar o preço pelos nossos sonhos, quaisquer que sejam eles, para que mais tarde não nos reste nenhum arrependimento, nem ninguém a quem atribuirmos à culpa por escolhas que fizemos.

As nossas vidas se autoexplicam pela cara e o valor que atribuímos a ela.