
Caminho pelos desertos de mim à procura do que fui um dia: se lagarta, o casulo não me serve mais, pois nas asas de uma borboleta eu ganhei vida e, hoje, sacio essa fome de mim recolhendo fragmentos de minhas asas para me recompor.
O invólucro não me seduz e o porto seguro já não me atrai. Quero a liberdade das asas, dos ventos e das manhãs primaveris, para pousar nas margaridas e, junto a elas, sentir a brisa em meu rosto saudando um novo dia... Um outro recomeço. Chega de fazer promessas que não posso cumprir. De iniciar o ano com uma lista interminável de bons propósitos, se cada amanhecer traz uma nova perspectiva de fazermos diferente, o velho hábito de sofrer – sem sofrer - e nós nem nos damos conta disso.
Listas não servem pra nada, pelo menos, não nesse caso. Elas falam a linguagem do cotidiano, da mesmice, e, muitas vezes, o que estamos precisando é de uma boa corrente de ar, de uma arejada nas idéias pra botar fora os sonhos obsoletos, e os desejos irrealizáveis...
Por isso, viajo pelos desertos de mim a princípio adejando, e logo depois, alçando vôos em direção ao infinito, que é o limite da minha capacidade de sonhar e de me refazer.