Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

maio 12, 2010

Um Homem Singular






Aquele embrulho lhe pareceu estranho... Mas, ao lembrar do temperamento romântico e da delicadeza do seu amor, ficou em silêncio. Decidiu esperar! Conhecia bem a linguagem daquele olhar e, naquele dia, havia uma alegria incontida que contrastava com a serenidade dos gestos e com o tom suave da sua voz. Alguma travessura eles guardavam...

Não precisou esperar muito! Enquanto ela tirava fotos e feliz, comemorava o dia do seu aniversário, ele tirou um borrifador daquela sacola e começou a espargir água sobre o embrulho. E, ante o seu espanto, a revelação: ele havia trazido da sua cidade, um buquê de rosas vermelhas e durante todo o percurso, molhava as flores, para que elas não murchassem e perdessem a beleza. Cuidava delas com o mesmo amor, carinho e atenção que dedicou àquela mulher, por anos a fio.

Foi só então que ela se deu conta de quantos anos havia se passado desde a última vez que eles se encontraram e quão precioso era ser amada, assim, por aquele homem tão especial...

Um homem inteligente! Que tem respeito pelo tempo que passa velozmente e nos reduz a pó. Que sabe que as suas cinzas vão se espalhar pelos ventos e transformar vaidade, soberba, orgulho e poder em matéria para o caminhar dos que ficam... E por ter a noção exata de sua finitude e a emoção à flor da pele, vive o amor com a delicadeza e a sensibilidade que o sentimento exige...

Um homem singular! Que assume o seu querer, mas guarda-o no silêncio do olhar e na beleza das rosas...