
“Somos todos filhos do tempo e ele está nos devorando diariamente, desde o momento em que nascemos”.
Por que será, então, que vivemos ou projetamos a vida sempre no futuro?
A resposta, talvez esteja no fato de que ao levá-la para o porvir, nos sentimos confortáveis em retardar o exercício do amor e do cuidado. O olhar para o outro, seja ele pai, mãe, filho, irmão, parente, amigo ou amante, é de eternidade. Pensamos que todos estarão lá, ao alcance de nossas mãos, na hora e na data marcadas pelo relógio da nossa conveniência, ou seja, no nosso tempo! No tempo do nosso egoísmo e descaso, da nossa arrogância e desamor, do orgulho e da vaidade que sempre ditam as normas, quando o assunto é cuidar do bem-estar do próximo.
Betinho, irmão do Henfil, sabiamente nos advertiu: “quem tem fome - seja do que for - tem pressa”. Não existe amanhã para quem tem os olhos da memória voltados para o terreno infértil das ações e atitudes que nunca saem do papel ou do mundo das ideias.
Tempo! Palavra que, hoje, habita o terreno da escassez de afetos, de carinho, de respeito e de consideração. Estamos todos desaprendendo que “somos tão menos, um sem o outro” e, que, nada é permanente a não ser o passar das horas.
Precisamos desacelerar o passo em direção ao futuro para vivenciarmos a liturgia dos afetos e o exercício do amor; esse amor que pacifica os nossos dias e nos alerta que a eternidade é, tão somente, um jeito frio de prolongar o desamor, a fome, a miséria e, também, uma maneira simples de dizer: eu não me importo!
E, se no lugar do outro fosse você? O que faria?