Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

janeiro 25, 2010

Fora do Ar






Um relógio parado, uma roupa que não cabe mais, um voo perdido que tento inutilmente alcançar, é assim que eu me sinto: fora do tempo! Caminho, hoje, por entre as ruas dentro de mim e só encontro o passado... É um museu de imagens, palavras e sons cheio de significados. Promessas de vida!

(...)

Lá fora, em meio ao burburinho que agita a cidade, a vida fervilha... Procuro placas indicativas do caminho para felicidade e não encontro.
Que tempo é esse que despreza a gratuidade dos bens não perecíveis: amor, carinho, ternura, compreensão e respeito? Que tempo é esse tão diferente do meu, aqui dentro? Acho que perdi a bússola, o guia, o norte, o rumo, a direção! Estou fora do ar, nesse presente, onde tudo é muito confuso, atropelado, incerto... Oba, oba... Descartável!

(...)

Olho para a época em que o tom das folhas é amarelado e um hiato em minha memória é permeado por odores de naftalina, e me convenço: estou à deriva no tempo. E isso, se deve muitos mais aos valores cultuados nessa vida apressada, em que até as palavras se tornam obsoletas, do que a adaptação que me é exigida por esse mundo moderno.

Por isso, volto para o meu estoque de saudades - museu de carne e vida - e deixo que o meu sorriso se prolongue enquanto o tempo desfila as suas lembranças... Estou fora do ar!