Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

maio 17, 2010

Um Destinatário para o Verbo Amar





Pelas janelas quebradas da minha alma eu vejo as horas passarem inclementes, desbotando saudades, enquanto eu insisto em tecer a vida com os fios da esperança...

O tempo desenha em meu corpo as marcas do tempo, mas preserva-me a alma nas pontas dos dedos para que o verbo caiba no universo dos meus sonhos e a saudade brinque de rabiscar o teu nome...

Sigo brincando com as palavras... Basta uma vírgula mal colocada, uma interrogação tardia, uma exclamação fora de hora ou três pontinhos e lá se vão as minhas letras pontuadas pela hesitação do meu amor não assumido... Alguém dirá: é ele! Eu respondo apenas que a posse das palavras não é minha, mas de quem as ler. Em minhas mãos eu tenho apenas o alfabeto e, quando escrevo, dou-lhes vida, mas quem as ler dá-lhes um universo de sentidos.

Procuro na escrita um destinatário para o verbo amar do meu amor, enquanto atravesso desertos de dor e solidão tentando resgatar a minha identidade. Gasto as palavras na tentativa de gastar também esse amor mal resolvido. E me pergunto: se elas me faltarem, esse amor, que está escondido entre pausas e vírgulas, também será esquecido?

Preciso tentar... Pois não quero mais um sentimento que me faz perder o rumo, o prumo, o chão e me leva pra longe de mim... Há tanta ausência entre a minha vida e a tua que, hoje, eu só sei contar o amor em saudades... E o tempo, em solidão!