
Pelas janelas quebradas da minha alma eu vejo as horas passarem inclementes, desbotando saudades, enquanto eu insisto em tecer a vida com os fios da esperança...
O tempo desenha em meu corpo as marcas do tempo, mas preserva-me a alma nas pontas dos dedos para que o verbo caiba no universo dos meus sonhos e a saudade brinque de rabiscar o teu nome...
Sigo brincando com as palavras... Basta uma vírgula mal colocada, uma interrogação tardia, uma exclamação fora de hora ou três pontinhos e lá se vão as minhas letras pontuadas pela hesitação do meu amor não assumido... Alguém dirá: é ele! Eu respondo apenas que a posse das palavras não é minha, mas de quem as ler. Em minhas mãos eu tenho apenas o alfabeto e, quando escrevo, dou-lhes vida, mas quem as ler dá-lhes um universo de sentidos.
Procuro na escrita um destinatário para o verbo amar do meu amor, enquanto atravesso desertos de dor e solidão tentando resgatar a minha identidade. Gasto as palavras na tentativa de gastar também esse amor mal resolvido. E me pergunto: se elas me faltarem, esse amor, que está escondido entre pausas e vírgulas, também será esquecido?
Preciso tentar... Pois não quero mais um sentimento que me faz perder o rumo, o prumo, o chão e me leva pra longe de mim... Há tanta ausência entre a minha vida e a tua que, hoje, eu só sei contar o amor em saudades... E o tempo, em solidão!