Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

junho 17, 2009

Emoções Perfumadas





Um cheiro de terra molhada, aroma de comida caseira e um som nos leva ao passado e faz aflorar as nossas emoções. O tempo alterou o relógio das horas e aos nossos olhos a paisagem mudou, mas para o coração o arrepio da pele ainda é a linguagem das lembranças que não querem partir.

De onde vem o cheiro, o aroma e o som que revolvem memórias e plantam saudades no terreno das recordações? Vêm de lugares longínquos e das ruas que, até hoje, passeiam dentro de nós com seus odores reacendendo a velha chama das emoções perfumadas: é uma chuva miúda que molha a grama e desperta o perfume da terra trazendo um arco-íris em forma de jardim; é um fogão à lenha desenhando carinhos e cuidados em gestos cotidianos, que alimentam, afagam e vão deixando uma fragrância no ar capaz de refazer todo um caminho de volta, num momento como esse, em que as saudades esquecidas estão em repouso no baú dos tempos perdidos; é um som de acordes melancólicos que misturados ao crepitar da madeira abrasam o corpo frio, pois um inverno de saudades faz chover no coração. São as recordações que chegam e partem, redesenhando emoções.

O tempo que a tudo transforma alterou a paisagem, mas a fonte das nossas lembranças é inexaurível. Dentro de nós há um livro aberto repassando páginas, recontando histórias e trazendo à tona, fatos e personagens que resgatam um pouco da nossa vida e do passado... Gosto de olhar para essas folhas, em seu tom de sépia, e sentir o ar carregado de uma fragrância que envolve e encanta. São memórias cinzeladas em nosso coração perfumando o ambiente e o arrepio da pele, é a tradução da linguagem do corpo respondendo ao que ficou esculpido em nossa alma. Basta um cheiro, um aroma ou um som e nós viajamos para o mundo encantado das emoções atemporais...