Certas pessoas já nascem etiquetadas e com prazos de validades vencidos. Carregam a inapetência pela vida e se deixam consumir pela pulsação dos dias iguais, como se viver fosse um fardo. Seus traçados são em linha reta e a sinuosidade das curvas que tantas surpresas nos causam, não faz parte do seu viver, por isso trazem, em seus semblantes, as marcas da tristeza, da amargura e do luto.
Conviver com elas é navegar em noites de tempestades, é deixar esvaecer a nossa alegria, para dar lugar ao encadeamento de suas desgraças.
São chamadas de almas penadas porque vivem em completo estado de expiação e temem que, a alegria e o contentamento possam usurpar a remissão dos seus pecados. Planejam a sua vida como um filme preto e branco, feito de desertos, sofrimentos e com um fim presumível.
Quem não conhece uma pessoa assim?
- Elas são vorazes, sugam as nossas energias, alimentam-se do nosso deslumbramento pela vida, e depois, desconcertam as nossas certezas numa tentativa de levá-las a escorrer pelo ralo. São sombras que se abrigam em centelhas, por não terem luz própria.
Ainda bem que, para contrapor a essas criaturas, temos as almas margaridas. Quão belas são!
Seus desenhos são feitos de curvas, que falam de possibilidades... Possibilidades infinitas de fazer, acontecer, dar certo a essa vida cheia de manhas, sôfrega em nos propor desafios para além das nossas combalidas forças.
Alguém conhece uma pessoa assim?
- Elas flamejam por que são feéricas e ao seu toque, tudo se faz vida, alegria e certezas. Iluminam e a sua luz reverbera em nós tornando-nos melhores. Desconhecem o egoísmo, a inveja e a maldade. São dádivas na vida de quem as possui como companhia. Por isso me faço peregrina nos campos e jardins à procura de almas margaridas.
Preciso despoluir-me...
*Este texto é uma homenagem a Nina Sena: cronicasdeumameninafeliz.blogspot.com
*E a menina Beatriz Menéres, pela imagem da margarida