Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

agosto 24, 2009

Felicidade Efêmera







Não sei se ando nostálgica ou se os passos que me levaram àquele velho armazém trouxeram o passado para o presente. O fato é que, dessa visita, resultou saudades que me acompanham desde então, trazendo indagações para as quais não tenho respostas e nem sequer consenso. Onde está a felicidade? No passado, em seu tempo de calmaria e passos lentos, ou na vertiginosidade do presente com as suas conquistas efêmeras?

Perdida nos meandros do caminho, entre o velho armazém com seus penduricalhos e odores - reacendendo memórias - e as urgências da vida moderna, eu recorro as minhas lembranças... Volto ao tempo das cadeiras nas calçadas, da cumplicidade com o amigo-irmão, do sorriso afável do vizinho, com seu olhar e ouvidos atentos, a convidar-me para um “dedo de prosa” e da suave brisa noturna a embalar os meus sonhos de um futuro promissor. Quanto aconchego, simplicidade e paz, sob um céu de brigadeiro a cintilar estrelas em noites banhadas de luar!
Este é o quadro que ora se apresenta em seu tom de sépia e vai esvaecendo lentamente, à medida que o hoje se afigura, impondo o seu caráter de urgência, lembrando: o futuro chegou!

Ah, o futuro! - felicidade prometida, terra de Canaã! - eis que ele chega como um vendaval, a varrer poeiras de estradas, estrelas e sonhos. Quantas coisas e tantos afetos mudaram-se das minhas lembranças (...). Mas, em compensação que conquistas e belas vitórias conseguimos em todos os campos de atuação: no trabalho, na saúde, política, economia... E quanto de tudo isso, resultou em melhor qualidade de vida para todos nós?

Pensando bem, temos aí o passado com o seu significado e importância atrelados a valores, laços e vínculos que tão bem nos faziam e o imediatismo que reina hoje, junto com a vaidade e seus súditos. Todos os dias o novo fica velho e a alegria da conquista cede espaço para novos inventos, provocando distanciamento nas relações pessoais. E se por um lado temos avanços na ciência, na tecnologia e em tantas outras áreas; já não há cadeiras, nem calçadas e amigos, para abarcar tanta solidão. O progresso urbanizou também os relacionamentos e, agora, já se pode “prosear on-line”, basta digitar: www.tenhopressa.com.br e as relações, em tempos de gripe suína, ficam mais assépticas. O amigo-irmão de antes, o vizinho prestimoso e aquele velho sonho de tudo se ajeitar, se transformaram em poeira do tempo. Hoje, somos movidos pelos desejos e prazeres efêmeros... Tudo flui... Tudo é descartável, mas o progresso continua... .

E a felicidade onde está?