
Ah, esses nossos professores de redação! Sempre a nos exigir que economizemos a vida em poucas linhas. Pensando bem, ela parece caber, toda, na pausa daquela fotografia.
Olho para o quadro na parede e vejo que a imagem está ali, mas a vida, não! Essa corre lá fora... Ali está apenas uma cena em pausa melancólica pedindo providências, exigindo outro roteiro, outro rumo, uma nova direção...
Aquela foto desbotada era uma metáfora do que fora a sua vida até aquele momento: uma espera sem fim, por um amor, que ficara na pausa de uma fotografia.
Por um longo período ela deixou que a sua alma vivesse em desalinho. Respeitou lacunas e silêncios... Pensava: não tenho problemas com a solidão! Mas, é certo, que lhe doía aquele amor que não respeitava o tempo e, ainda hoje, batia à porta do seu coração dizendo: queria que ele estivesse aqui!
Vivia antecipando saudades para apaziguar a sua alma blindada, devastada, desabitada. Há anos que não cabia dentro de si. O amor por aquele homem ocupava tempo e espaço que eram seus. “Vivia como estrangeira de si mesma: sem alma, sem DNA, sem código genético.”
Vivia! Pois, a partir daquele momento, ao olhar o quadro na parede, resolveu fazer uma escolha: entre ele e eu, escolho a mim. Quero, hoje, um amor que me procure; que venha bater a minha porta e que tenha a coragem de dizer que precisa de mim. Porque é assim que eu sei amar. INTEIRA!
Então, olhou novamente para a vida estagnada na pausa daquela fotografia e concluiu: agora chega, acabou! E, aquela frase ecoou dentro dela, como um aceite de um tempo que chegara ao fim.