Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

dezembro 28, 2023

Milagres da Beata Nhá Chica




Francisca de Paula de Jesus, conhecida popularmente como Nhá Chica, nasceu em 1808, em Rio das Mortes, no estado de Minas Gerais e, faleceu em 14 de junho de 1895, na cidade de Baependi, do mesmo estado. Em 04 de maio de 2013, Angelo Amato, cardeal católico italiano e prefeito emérito da Congregação para a causa dos Santos, proclamou-a beata em razão de um milagre obtido pela professora Ana Lúcia. Ela curou-se, após rogar a Nhá Chica que intercedesse à Virgem da Conceição por sua saúde. A professora estava com a cirurgia marcada e, de acordo com o diagnóstico dos médicos que acompanharam o seu caso, não havia explicação científica para uma cura tão inesperada.

Ao iniciar este texto, eu fui pesquisar no Aurélio a definição de milagre. Nele, está escrito:

- substantivo masculino

1- Feito ou ocorrência extraordinária, não explicável pelas leis da natureza.

2.Fig. Acontecimento admirável, espantoso.

Pois bem, a partir de agora eu escolho a opção 2. para justificar este texto. Antes, devo dizer que no You Tube tem toda a história de vida de Nhá Chica e o primeiro Milagre narrado por Ana Lúcia. Além disso, tem depoimentos de fiéis e uma entrevista concedida a Leda Nagle, pelo também jornalista Marcio Campos. Na conversa, ele faz comentários sobre uma graça alcançada, fala acerca do livro que escreveu sobre Francisca de Paula de Jesus e da esperança de vê-la na lista dos santos canonizados pela Igreja Católica.

Portanto, acompanhem o relato abaixo, pois ele faz referência a um “encontro” que eu e a minha filha Danielle tivemos com a Beata Nhá Chica. E, depois, se tiverem interesse, assistam e leiam sobre a vida desta extraordinária mulher.

No blog Reconstruindo Caminhos tem um texto cujo nome é: Uma Carta para Nana Lins – O Perfume do Tempo. Esta carta fala a respeito de Danielle. Nela, eu fiz a descrição de sua vida desde o útero até o ano de 2021. Contudo, neste momento, para não cansar o leitor eu farei apenas a descrição do que diz respeito ao título acima: Milagres da Beata Nhá Chica.

Em 22 de julho de 2021, Danielle descobriu um câncer no cérebro. Os médicos consultados foram unânimes no diagnóstico: o tumor era agressivo, em estágio avançado (quarto grau- selvagem) e incurável.

Uma semana depois, ela submeteu-se a uma cirurgia e, em seguida, à radioterapia e à quimioterapia. Foi-nos dito que este tipo de câncer não migraria para outros órgãos, porém, a cada treze (13) dias ele iria triplicar de tamanho. O que, em consequência, nos deixara aflitos e temerosos.

Em dezembro de 2021, Danielle fez a primeira ressonância magnética após a cirurgia, para acompanhar a evolução do tratamento a que vinha se submetendo. Todavia, apesar do tratamento pós-cirúrgico, foi constatado que o tumor voltara e, a esta altura, media quase três centímetros. Como dissemos, anteriormente, o glioblastoma tinha como característica triplicar de tamanho a cada treze dias. Como não se desesperar diante da evidência de uma morte iminente?

Pois bem, o nosso encontro com a Beata Nhá Chica aconteceu neste tempo de aflição, ou melhor dizendo, o nosso reencontro. Explico.

Tempos atrás, (muito antes da descoberta do câncer) Danielle fez uma viagem de avião. Ao se movimentar na cadeira, quando estava lendo uma revista de bordo, percebeu que algo caiu no chão da aeronave. Abaixou-se e recolheu um pequeno pedaço de papel que contia uma oração e a imagem da Beata. Guardou o objeto dentro da bolsa e esqueceu. Voltamos agora para o início do ano de 2022.

Em janeiro de 2022, Danielle continuava fazendo a quimioterapia para tentar reduzir o tamanho do tumor que vinha crescendo desde dezembro de 2021. Neste intervalo, estávamos conversando na varanda do seu apartamento, quando ela foi apanhar uma caixa onde havia guardado fotos antigas. Disse-me, naquela hora, que havia ativado a memória ao olhar para aquelas imagens. Por isso, fizera um trabalho de colagem para exercitar a mente e queria que eu visse.

Em dado momento, quando abriu a embalagem, algo caiu sobre o piso da sala. Naquele instante, ela voltou-se para mim e falou:

- Esta é a terceira vez que este objeto vai ao chão. Em outra ocasião, quando eu abri a caixa, ele também caiu. E, contou-me, novamente, a história daquele pequeno pedaço de papel encontrado dentro da aeronave. A partir daí, procuramos informações no canal do You Tube a respeito daquela imagem impressa no papel e assistimos a todos os vídeos disponíveis sobre Francisca de Paula de Jesus.

Desde então, iniciamos uma súplica para que a Beata Nhá Chica intercedesse a sua Sinhá, a Virgem da Conceição, pela saúde de Danielle.

Em março de 2022, a minha filha fez uma segunda ressonância para comparar com aquela tirada em dezembro de 2021, e foi constatado que o tumor estacionara. Em julho do mesmo ano, ela voltou ao oncologista e o resultado do novo exame foi de que o glioblastoma diminuiu cinquenta por cento. Em dezembro de 2022, o resultado da ressonância magnética acusou apenas um traço... A cicatriz da cirurgia.

Esta história tem detalhes importantes que valeriam a pena ser inseridos neste texto, contudo, o que eu quero ressaltar é a fé que não desmorona diante dos obstáculos, é a resiliência perante o sofrimento e a certeza de que nós tudo podemos naquele que nos fortalece.

Depois de tudo que eu narrei aqui, é importante acrescentar que em 2022, Danielle escreveu o seu memorial para UFPB, em plena convalescença, deu aula de Yoga para amigos, voou de Parapente, viajou, fez participações em encontros virtuais, cuja finalidade era o trabalho acadêmico e, além de tudo isso, ainda encontrou tempo para alimentar o seu novo hobby: cantar entre amigos. E, agora, antes de finalizar o ano de 2023, está de volta à sala de aula na Universidade Federal da Paraíba.

Em razão de tudo o que foi exposto aqui, é fundamental evidenciar que eu não estou tentando convencer ninguém a acreditar que fomos agraciados com o Milagre da Cura, tampouco fazendo campanha pela santificação da Beata Nhá Chica. Nós sabemos que o processo de canonização é exigente, dura anos, décadas, às vezes, séculos e que ainda temos um longo caminho a percorrer.

No entanto, como eu disse no início do texto:

- Escolho a definição de milagre, que está escrito na opção 2. segundo o dicionário do Aurelio:

- 2.Fig. Acontecimento admirável, espantoso.

O que tem acontecido de 2021 até os dias de hoje, é admirável, espantoso. Para nós o Milagre já existe e está presente em nossa família. Eu creio e, isto me basta!

dezembro 05, 2023

Uma Conversa sobre os Mistérios da Fé e da Oração

 


















O Pe. Fábio de Melo em seu livro “Por onde for o teu passo, que lá esteja o teu coração,” nos diz: - educar o desejo é derramar elegância sobre a alma.” No entanto, eu nunca consegui educar o meu desejo de saber mais sobre os Mistérios da Fé, da Oração e o porquê de algumas pessoas alcançarem as graças pedidas e, outras, não. Estava sempre insatisfeita, em dívida com as aspirações do meu espírito. Sentia-me menor, preterida, deselegante e, em razão disto, resolvi visitar algumas religiões para ouvir padres, pastores e espíritas. Necessitava de alguém que me ajudasse na interpretação dos textos religiosos. Esperava que esta pessoa me conduzisse a tão sonhada Fé que Cura e ao Poder da Oração que produz Milagres. Desejava com isto ter uma conversa simples e direta com Jesus, da mesma maneira que eu fazia quando era criança. Queria o êxtase!

Acontece que os anos foram passando e a minha alma continuava sedenta de explicações. Nenhum discurso, homilia, tampouco pregação servia para saciar o meu espírito. Ele continuava com sede de propósito... E queria saber mais... Muito mais. 

Onde encontrar a Fé que Cura, a Oração que traz Paz ou a Verdade que Liberta? - Perguntas sem respostas!? Sim! Porém, um sim que só perdurou até o instante em que comecei a escrever este texto. Neste pequeno espaço de tempo, um vislumbre de luz percorreu o lugar sagrado da minha consciência e as gavetas do passado foram abertas. Tudo o que sobreviveu na memória veio à mente pelas vias da reflexão.

Então, lembrei-me de um quadro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus colocado acima do piano, na parede da sala de visitas. Nesta época, eu tinha a idade da criança que fez o filme Marcelino Pão e Vinho. Recordo-me de que a película citada marcou tão profundamente a minha infância que eu decidi que dali por diante seria o Marcelino Pão e Vinho, de Jesus e, com este, teria longas e proveitosas conversas. E foi isto que aconteceu durante os primeiros anos da minha existência. Sentava-me sobre a cadeira que estava posicionada em frente a imagem e contava-lhe a respeito do meu dia a dia. Às vezes, tinha a sensação de que um leve sorriso, um olhar amoroso ou um mirar mais severo era a resposta adequada que ela transmitia para as demandas daquele momento. Naquela hora, eu ficava feliz por ter um amigo tão disponível e que, ainda por cima, se importava comigo.

Todavia, os tempos da infância foram passando e a época da adolescência despontou. Com ela dúvidas e descrenças. Mas, nada tão sério, tão determinante a ponto de me levar para longe daquele quadro colocado acima do piano, na parede da sala de visitas. Quando alguma interrogação importante me assaltava ou colocava a fé nas conversas com Jesus, em risco, eu recorria às histórias ouvidas. Com algumas eu me identificava, principalmente, com uma que contava sobre uma mulher, de nome Maria, que ia todo santo dia à igreja e se colocava diante do altar, em silêncio. Ela não sabia ler, nem escrever, tampouco rezar. Sentia vergonha e tristeza pela sua ignorância. Entretanto, isto não a impedia de cumprir o seu ritual com rigor e devoção. Todas as vezes em que se colocava diante do altar, Maria dizia mentalmente: - “Jesus, eu estou aqui!” E esta foi a sua prece até o dia em que não pode mais frequentar a igreja. Nesta história, relata-se ainda que ao chegar às portas da morte, aquela mulher fora visitada por um homem desconhecido que acercando-se do seu leito, disse-lhe: -“Maria, eu estou aqui!”

Pois bem, trocou-se o calendário do tempo e, nesta ocasião, influenciada por leituras, pregações e discursos religiosos feitos à luz da hermenêutica eu comecei a acreditar que a minha fé era infantilizada e de que em nada me servia. Por esta razão, ausentei-me da sala do piano e perdi o contato e a intimidade com Jesus. Neste mesmo período, travei grandes batalhas e passei por muitas e muitas provações.

Em um certo dia, eu estava em sofrimento e comentei com uma prima que gostaria de resgatar aquele quadro que, a esta altura, sabia estar na casa de sua mãe. Ela prometeu não medir esforços para que ele chegasse as minhas mãos. E a partir daquela data comecei a pedir todos os dias: - “Jesus, volta pra mim!

Não sei precisar quanto durou aquela súplica. Acredito que entre um a dois anos. Neste intervalo, durante uma semana comum, eu recebi a visita de um sobrinho que trazia consigo um belo quadro desenhado a lápis para presentear-me. Ao retirar o mimo da embalagem, qual não foi a minha surpresa ao verificar que era o busto de Jesus e, sobre a sua cabeça, a coroa de espinhos. Naquele segundo, lembrei-me da tão sonhada imagem do Sagrado Coração de Jesus que eu ansiosamente aguardara. Um frio percorreu a minha espinha, mas não deixei transparecer o espanto e, em silêncio, disse: - “Jesus, eu aceito a coroa de espinhos, no entanto, dai-me força e fé para suportar o que vier pela frente!”

Passado algum tempo, em meados de 2021, a minha filha mais velha teve um câncer no cérebro, agressivo e em estágio avançado. Dias e meses difíceis, porém, de muita presença de Deus em minha vida. No início de 2022, eu fui a uma loja de artigos religiosos para comprar uma imagem da Beata Nhá Chica. A ela eu tinha rogado que intercedesse junto à Virgem da Conceição pela saúde da minha primogênita. Demorei a escolher, enquanto olhava a profusão de imagens e produtos espalhados naquele espaço. Ia e voltava várias vezes, indecisa. Por fim, escolhi uma e fui ao caixa para efetuar o pagamento. Quando concluí a compra e dirigi-me para a saída, um ímpeto levou-me a olhar para o alto da parede a minha direita. Ali estava um quadro do Sagrado Coração de Jesus. Quanta alegria eu senti! Olhei bem nos olhos dele e, acredite, ouvi a sua voz ressoar em minha mente: - “Leve-me para sua casa!” Não tive dúvidas... Não titubeei. Trouxe! Coloquei-o na parede do meu quarto. A imagem é igual àquela da sala do piano. A diferença está apenas na moldura. A antiga era mais requintada. Porém, o Mestre continua o mesmo: simples, amoroso e acolhedor. Todo dia eu olho para ele e digo: “Jesus, Marcelino Pão e Vinho, está aqui!” E a conversa flui como antigamente!

Ter de volta o quadro do Sagrado Coração de Jesus em minha casa é como receber a visita de um velho e querido amigo que o tempo distanciou. É saber que daqui por diante eu não estarei mais sozinha, pois haverá sempre uma companhia para conversar e para agradecer às bênçãos recebidas.

E é por tudo isso que, hoje, eu não acredito que haja uma fórmula pronta para entrar em comunhão com Jesus. Basta um coração puro... O Poder da Fé que Cura e da Oração que produz Milagres está implícito em suas palavras, segundo Mateus: - “Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos Céus é para aqueles que se lhes assemelham.”

Assim seja! Amém.

agosto 25, 2023

A Vitrola

 














A precisão cirúrgica da agulha deslizando hoje sobre as ranhuras do vinil, acorda lembranças adormecidas no berço das saudades. É chegada a hora de revivê-las, pois como bem disse o Padre Fábio de Melo: “... as idades da vida são rios que nunca deixam de desaguar em nós”.

Em outubro de 2019, eu encaixotei alguns pertences e deixei a Casa do Brisamar. Havia poucas caixas. Uma delas, a mais valiosa, era depositária de um silêncio repleto de sons. Naquela embalagem de papelão estiveram armazenados todos os meus discos de vinil e a história musical da minha vida com seus ruídos de alegria, felicidade, dor, saudade, lágrimas e solidão.

Lembro-me, agora, porque as recordações foram arquivadas em um sítio de memórias cheio de sons, passos, cheiros, cores e lembranças. Todos elas falaram de uma pátria de intimidades. E é para este lugar sagrado, onde alberguei tantas saudades esquecidas, que eu volto, neste instante, com o olhar ainda úmido pela possibilidade de revisitar a casa de dentro.

Há pouco mais de um mês, uma ideia surgiu em minha cabeça: comprar uma vitrola. Naquela ocasião, lembrei-me que na década de cinquenta, numa data próxima ao dia das mães, o meu tio Chico Maria presenteara Mãe Júlia com uma Radiola. Era assim que chamávamos a vitrola naquela época.

A chegada daquele móvel nos causara emoção e alegria. Uma peça de mobília para fazer companhia ao piano e aos outros móveis na sala de visitas. Uma sala que fora previamente preparada para receber tão distinta companhia. Trago à memória, até hoje, os cheiros da cera Parquetina e do Óleo de Peroba que perfumaram aquele ambiente. Um espaço que aos poucos foi-se enchendo de sons e de histórias. O primeiro deles com a música “Mamãe”, uma composição de David Nasser. Canção que preencheu o lugar de emoção e lágrimas, e fez a estreia da nossa querida vitrola.

Quanta emoção sentimos, no momento em que os primeiros acordes se fizeram ouvir através daquele disco de vinil! Um objeto circular que usara palavras cantadas, para falar do amor de um filho por sua mãe. Este e outros objetos circulares fizeram parte do acervo do meu patrimônio musical. Foram anos colecionando memórias auditivas, até que o meu futuro ficasse prenhe de simbologias.

Por tudo isso, hoje, ao observar novamente a precisão cirúrgica da agulha deslizando sobre o vinil, eu rendo ruidosos aplausos a minha nova vitrola, aos meus novos discos e ergo um brinde às boas lembranças. Além disso, acendo o incenso da saudade para perfumar o ambiente e permito que “as idades da vida continuem a desaguar em mim.”

julho 18, 2023

O Amor é Construção

 











Amar é apagar da memória os nossos excessos e reeducar o olhar para deixar o tempo abrir-se em direção ao outro. Amar é virar a página e se reinventar. É adiar certezas para um tempo futuro, quando os nossos olhos inventarem caminhos por onde o medo nos faz resistir. Todavia, quantos de nós somos capazes de retirar as cercas que colocamos ao nosso redor, para nos proteger da ameaça que é o outro no exercício da convivência?

O título desta prosa é: O Amor é Construção. Pois bem, o que será que temos a dizer sobre isto?

- Diremos que temos um olhar de esperança e de amorosidade no início de qualquer tipo de relacionamento. Naquele instante, em que somos cordialmente convidados a edificar a casa do amor, temos o mundo em nossas mãos. Um mundo de promessas onde esperamos, ingenuamente, que a tristeza e a dor não sejam revisitadas.

Passado algum tempo, um olhar de impaciência acusa-nos de que o outro, agora, é um território estranho. Então, nos recolhemos e achamos por bem voltar à zona de conforto da nossa eterna solidão. Um lugar onde ninguém nos confronta, afronta ou obriga-nos a rever as nossas verdades pétreas. E, desse modo, a vida vai esmaecendo a tal ponto que os dias vão acordando tristes e sombrios.

O que será que mudou? De quem foi a culpa? Por que aquele amor que se derramava através da janela do nosso olhar, denunciando um brilho intenso e uma alegria incontida, de repente, esmaeceu?

- Nada mudou! O amor é uma arte, uma construção diária que flerta com a eternidade. Todos nós sonhamos que ele dure para sempre e, a despeito do que disse o poeta Vinícius de Moraes, em seu poema Soneto de Fidelidade: “que seja infinito, enquanto dure”, nós ainda esperamos, dia após dia, que o brilho dos nossos olhos nunca se apague.

- De quem foi a culpa pelo fim do relacionamento?

- De todos e de ninguém em especial! Quando o sentimento acaba, todos perdemos. Perdemos a melhor parte de nós mesmos, porque o amor agrega e reúne em um só lugar, no coração, as nossas melhores intenções. Quando amamos somos mais benevolentes, solidários, empáticos e dispostos a contribuir para um mundo melhor. O poder inquestionável do amor nos faz melhores!

Por que, então, passado algum tempo, temos este olhar de impaciência para com o outro e deixamos que os dias sigam tristes e sombrios?

- São tantas as variáveis! No entanto, ousaríamos dizer que a principal, talvez, seja o ego de quem se julga melhor, mais sábio ou maior do que os outros. Há pessoas que vêm ao mundo com o dedo em riste, travestidas de juízes da humanidade e cheias de certezas pétreas. A essas, não lhe interessam ouvir opiniões contrárias, nem argumentos que derrubem convicções armazenadas em seu HD pessoal. São adultos infantilizados, incapazes de manter um diálogo cordial, quando percebem que terão de rever alguns pensamentos, ideias e posicionamentos.

Em razão disso, se em algum momento tiverem que optar, vão preferir o deserto da solidão à riqueza e o aprendizado que existe na convivência com o outro. Pois, afinal, o amor é uma construção diária erguida sobre o altar das nossas convicções e cabe a nós darmos a ele a chance de nos reinventar.

maio 08, 2023

O Valor de um Sonho

 












Há dias eu acordei com esta sentença ecoando em minha cabeça:- A vida é, antes de tudo, explicação!

Não entendi, de imediato, o porquê das letras se fazerem inquilinas do meu cérebro, sem pagar aluguel e, ainda por cima, obrigarem-me, depois de desperta, a costurar acordos com a minha consciência a busca de uma explicação. Na sequência da frase acima, duas questões surgiram-me à mente.

- Você é feliz?

- Pagou o preço pelos seus sonhos?

Então, pensando sobre isso, eu fiz esta reflexão:

Durante boa parte da juventude, nós ignoramos as engrenagens que põem os ponteiros do relógio em funcionamento. Deambulamos pelas ruas e avenidas sem lenço e sem documento. A princípio, levadas pelo frescor dos primeiros anos, desconhecemos o valor das horas. Não temos pressa em ser felizes, nem passamos em revista o cotidiano porque acreditamos ter todo o tempo do mundo para fazê-lo. Nesta fase, as vozes da razão sempre silenciam quando o assunto é o tempo que urge.

Decorridas algumas décadas, fazemo-nos as mesmas perguntas:

- Fomos felizes?

- Pagamos o preço que os nossos sonhos exigiram?

Nesta ocasião, a consciência que temos sobre o tempo pretérito sugere que pensemos mais sobre o assunto. Surgem novas interrogações:

- Em que lugar está escondido este contentamento, se o tempo futuro continua escorrendo pelos nossos dedos e parece arremessar sonhos e felicidades para longe de nós?

As horas, agora, parecem correr na velocidade da luz, enquanto continuamos a nos questionar.

- Em que lugar perdemos o bonde da história ou deixamos de montar no cavalo que passou encilhado?

Aí, entendemos o sentido da frase: a vida é, antes de tudo, explicação.

Acreditar nos sonhos é tão importante quanto vivê-los. Deixar o cavalo passar ao largo sem montá-lo é um preço alto que pagamos por desistir daquilo que nos faz felizes.

Existem pessoas que cavam a unhas e dentes oportunidades que a outras são oferecidas de graça. Àquelas lhes faltam tudo ou quase tudo. Mas, a coragem para ir a busca dos seus sonhos é combustível que inflama o corpo e o espírito. E elas correm como lobos atrás daquilo que alimenta as suas almas. Outras passam a vida adiando, silenciando desejos e ignorando os ponteiros céleres do relógio da vida.

Por estas e por outras razões, devemos ou não pagar o valor exigido pelos nossos sonhos?

- A resposta é simples e está dentro de nós desde sempre.

Pensemos sobre os nossos desejos mais íntimos e tomemos a decisão que vai mudar o rumo das nossas vidas lembrando-nos, porém, de que a ela - a decisão – e, as suas consequências, são de nossa inteira responsabilidade. Não devemos esperar que a vida mude, nem que a felicidade chegue sem esforço, tampouco que tudo aconteça como num passe de mágica. Devemos pagar o preço pelos nossos sonhos, quaisquer que sejam eles, para que mais tarde não nos reste nenhum arrependimento, nem ninguém a quem atribuirmos à culpa por escolhas que fizemos.

As nossas vidas se autoexplicam pela cara e o valor que atribuímos a ela.