Muito se fala sobre o verbo amar e consultando o Aurélio, descobri que ele pode ser transitivo direto, intransitivo ou verbo pronominal. Amar sintaticamente, essa não é a questão! A pergunta é quando amar vale a pena?
1º - Como verbo transitivo direto, tem-se o exemplo: Ter amor a; querer muito bem a; sentir ternura ou paixão por.
Li, recentemente, um artigo – e há vários títulos similares no mercado editorial – onde a autora começava fazendo a seguinte indagação: quer conquistar o homem dos seus sonhos? De imediato, lembrei do parágrafo acima e do lado feminino do amor, aquele em que você se anula em função do outro, se assume escrava de seus desejos, vontades, disponibilidades e preferências. E respondi não! Sabem por quê?
- Porque o amor, o querer, a ternura e a paixão – da maneira citada acima - já foram gastos por mim e para mim. Fui me descobrindo e conhecendo aos poucos, deixando aflorar os meus quereres e depois, resoluta, decidi que não quero conquistar nem ser conquistada. Desejo ser o córrego, o riacho, o rio e todas as águas correntes que afluem para o mar e nele se beneficiam. Quero você e eu juntos, mar sem complicações de ordem ou hierarquia, nem objeto direto, nem indireto, tampouco verbo intransitivo.
Ah, verbo intransitivo! Como ele é orgulhoso, intransigente, cheio de si e mandão! Dispensa companhia! Basta-se! Vive atropelando as palavras, tem dificuldade em formar frases, usa e abusa do direito de ser conciso e ainda requer pra si o troféu de campeão. Coisas do gênero penso eu, ou de quem se valoriza por se achar minoria e raridade. Pobre verbo de conjugação deficitária! É um solipcista de primeira, desconhece a relação pronominal (...).
Pensando nisso, volto ao Aurélio, procuro o amor e encontro: amar, verbo pronominal. Experimentar um sentimento mútuo de amor, ternura, paixão.
Eis o cerne da questão! Um sentimento recíproco de todos os bons sentimentos (...). Quando se tem isso, o resto flui naturalmente, você e eu juntos, mar, nem primeiro, nem segundo, nem macho, nem fêmea, nem senhor, nem escrava (...). Apenas nós, cada um com a sua singularidade, mas se reconhecendo plural no amar (...).
“Heureca!” Agora, sim, eu tenho uma resposta: amar vale a pena quando não se encontra um turista acidental, que aporta na sua vida com açodamento, trazendo na mala promessas para um futuro incerto. Quando, antes de tudo, temos um compromisso com nós mesmos de respeitar a individualidade do outro e fazer de todo dia, um desafio para amar pronominalmente (...). Nós!
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