
Um relógio parado, uma roupa que não cabe mais, um voo perdido que tento inutilmente alcançar, é assim que eu me sinto: fora do tempo! Caminho, hoje, por entre as ruas dentro de mim e só encontro o passado... É um museu de imagens, palavras e sons cheio de significados. Promessas de vida!
(...)
Lá fora, em meio ao burburinho que agita a cidade, a vida fervilha... Procuro placas indicativas do caminho para felicidade e não encontro.
Que tempo é esse que despreza a gratuidade dos bens não perecíveis: amor, carinho, ternura, compreensão e respeito? Que tempo é esse tão diferente do meu, aqui dentro? Acho que perdi a bússola, o guia, o norte, o rumo, a direção! Estou fora do ar, nesse presente, onde tudo é muito confuso, atropelado, incerto... Oba, oba... Descartável!
(...)
Olho para a época em que o tom das folhas é amarelado e um hiato em minha memória é permeado por odores de naftalina, e me convenço: estou à deriva no tempo. E isso, se deve muitos mais aos valores cultuados nessa vida apressada, em que até as palavras se tornam obsoletas, do que a adaptação que me é exigida por esse mundo moderno.
Por isso, volto para o meu estoque de saudades - museu de carne e vida - e deixo que o meu sorriso se prolongue enquanto o tempo desfila as suas lembranças... Estou fora do ar!