Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

agosto 03, 2008

Carta de Alforria











Meu passaporte para sair de você, amor, são as palavras, e feito escrava em sua senzala eu anseio pela liberdade, que um dia elas hão de me dar. Andei negociando a minha carta de alforria rumo à terra da felicidade, mas ela me foi negada.

Por que falar de amor é a minha sina? Andei sondando a possibilidade de levar o meu coração para fazer o ‘recall,’ e em troca eu daria – além dele – uma mega-sena inteira pelo direito de adquirir um coração vagabundo, mas isso também me foi recusado.

Como uma bomba de efeito retardado, o amor explodiu em minha vida e me levou a crer que seria único e inalienável, não deixando espaço às palavras para contestação. Puro engodo, propaganda enganosa.

Há tempos, que tento argumentar, fazer valer os meus direitos, recorri até a um ‘habeas corpus’ para me livrar das ilusões, mas feito sentença transitada em julgado – da qual não cabe recurso – eu fui aprisionada em um dicionário, onde só existem palavras de amor.

Foi aí que pensei: ah, quisera poder desfolhar todas as pétalas de rosas, ainda que politicamente incorreto, para fazer uma passarela onde o amor pudesse caminhar livre, leve e solto - como antigamente - mas não acredito mais, que ele possa existir! Na passarela atapetada por onde, hoje, os meus sonhos desfilam, eu fui procurar por ele e não o encontrei... Enfim estava livre, pensei! Doce ilusão, o amor perdeu o chão, mas foi procurar abrigo nas estrelas e é de lá que ele me manda notícias, sempre, nas minhas noites de solidão.

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