
O sistema de cotas para negros, nas universidades públicas brasileiras, nos coloca diante da realidade de um fato que há muito tentamos maquiar dando-lhe a feição de jeitinho brasileiro, ou seja, jogando para debaixo do tapete ou para escanteio, uma discussão que não nos obrigue a olhar de frente para o que evitamos assumir: somos uma nação racista e elitista e, por conseguinte, temos um sistema de educação excludente.
Defendemos a política de cotas porque é mais fácil do que reparar décadas e décadas de omissão, em relação aos direitos das minorias. Fingimos que não temos preconceito de raça e ignoramos a desigualdade social, presente também nas salas de aula, e assim vamos protelando “ad infinitum” as soluções que minimizem a distância entre brancos ricos, brancos pobres e negros de terem acesso à educação e à cultura em igualdade de condições. Proferimos, solenemente, um discurso a cada ano de eleição em favor dessas minorias e esquecemos de pô-lo em prática, tornando-o vazio e inaplicável. Por isso, para aliviar a nossa consciência e responder ao clamor dos excluídos, criamos um sistema de cotas e com esse ardil vamos adiando os investimentos necessários à educação de base, protelando ainda mais o sonho dos que esperam por uma justiça social que nunca chega, e obrigando-os a contentar-se com as sobras de um banquete para o qual nunca são convidados, apesar de habitarem a mesma casa.
Se pararmos para analisar a questão das cotas, veremos que, além de ser um fator de segregação, ela em nada contribui para que o aluno se integre ao ambiente acadêmico, uma vez que a própria exclusão já o diferencia e marginaliza, humilhando-o em sua dignidade. Ao ingressar na universidade pela política de cotas, o ser humano sente-se estigmatizado – aquele ali é cotista! – e aviltado em sua cidadania. Cobram-lhe esforço e dedicação dobrados pela oportunidade oferecida, e ainda são olhados de soslaio pelos seus pares numa clara alusão à sua condição social e a cor da sua pele.
Precisamos mudar isso e o movimento pela inserção de negros, na universidade, tem que continuar lutando por uma justiça social que abranja o direito que lhe outorga a carta magna desse país; de que todos são iguais perante a lei. E em sendo assim, que lhes devolvam a cidadania e o respeito, em igualdade de condições: verde, amarelo, azul e branco. A nossa cor... Brasil!