Numa dessas coincidências da vida volto, no dia seguinte, ao supermercado e encontro, novamente, o meu professor de redação. Conversamos sobre assuntos corriqueiros e, em determinado momento, ele cobra-me o texto anterior, dizendo que o tema sobre o passado ficou incompleto. Faltaram parágrafos sobre o amor: suas dores, alegrias e intimidades. Exige confissões... Digo-lhe que a memória da paixão é frágil. Ele insiste. Eu resisto! Estou cansada de despir-me a cada palavra escrita. Mas, como não tenho alternativa esforço-me para cumprir a tarefa. Vou tirar, mais uma vez, a roupa dos pensamentos... Fazer strip-tease das minhas fantasias.
Houve uma época em que o amor costurava as minhas pautas. Eu alinhavava palavras de carinho e ternura e, com elas, bordava as páginas dos meus textos. Remanescente de uma geração que lutara por liberdade e igualdade acreditei que o passado era um tempo comum aos dois gêneros e que, juntos, poderíamos construir uma relação de amor, confiança e respeito nesse mundo contemporâneo. Ledo engano. A história evoluiu, o homem, não! Ele saiu da caverna, mas continua aparvalhado. Deseja as benesses da evolução para sua espécie, no entanto recusa-se a conceder os mesmos privilégios para a mulher.
Procuro nos arquivos da memória, onde cataloguei as lembranças e não encontro, professor, esse amor que me faça garimpar palavras para antecipar saudades. No terreno dos meus sonhos só houve amor de perdição. Não tenho alegrias e intimidades para festejar, pois desse sentimento só conheço as dores: traição, abandono e solidão. Recuso-me a inventar trajetórias por onde os meus pés não caminharam. Portanto, não me peça para refazer a redação e falar sobre um amor que eu não conheço. Conheço, sim, o amor no universo masculino. Uma terra sem lei e sem respeito.
Cresci no mundo dos homens – de tantas prerrogativas - mas não aceito os seus arreios, não comungo de suas ideias, nem pactuo com os seus privilégios... A não ser que possa usufruir dos mesmos direitos.
Quero para mim, também, o direito à infidelidade, à traição e à esbórnia sem o julgamento nem a condenação do mundo machista. Quero usar as mesmas armas e provocar as mesmas feridas. Quero contar vantagens, fazer piada do sofrimento alheio, enganar os tolos e beber à sua inocência e, ainda assim, não ser taxada de leviana, irresponsável, nem de adúltera. Quero tantas coisas, mas, principalmente, quero que o tempo corra justo, pois nessa luta inglória, onde masculino e feminino se digladiam em busca de direito, poder e reconhecimento, só quem perdeu foi o amor...
E, é por isso, professor, que a minha redação sobre reminiscências está incompleta. Faltou saudade para contar histórias.
Houve uma época em que o amor costurava as minhas pautas. Eu alinhavava palavras de carinho e ternura e, com elas, bordava as páginas dos meus textos. Remanescente de uma geração que lutara por liberdade e igualdade acreditei que o passado era um tempo comum aos dois gêneros e que, juntos, poderíamos construir uma relação de amor, confiança e respeito nesse mundo contemporâneo. Ledo engano. A história evoluiu, o homem, não! Ele saiu da caverna, mas continua aparvalhado. Deseja as benesses da evolução para sua espécie, no entanto recusa-se a conceder os mesmos privilégios para a mulher.
Procuro nos arquivos da memória, onde cataloguei as lembranças e não encontro, professor, esse amor que me faça garimpar palavras para antecipar saudades. No terreno dos meus sonhos só houve amor de perdição. Não tenho alegrias e intimidades para festejar, pois desse sentimento só conheço as dores: traição, abandono e solidão. Recuso-me a inventar trajetórias por onde os meus pés não caminharam. Portanto, não me peça para refazer a redação e falar sobre um amor que eu não conheço. Conheço, sim, o amor no universo masculino. Uma terra sem lei e sem respeito.
Cresci no mundo dos homens – de tantas prerrogativas - mas não aceito os seus arreios, não comungo de suas ideias, nem pactuo com os seus privilégios... A não ser que possa usufruir dos mesmos direitos.
Quero para mim, também, o direito à infidelidade, à traição e à esbórnia sem o julgamento nem a condenação do mundo machista. Quero usar as mesmas armas e provocar as mesmas feridas. Quero contar vantagens, fazer piada do sofrimento alheio, enganar os tolos e beber à sua inocência e, ainda assim, não ser taxada de leviana, irresponsável, nem de adúltera. Quero tantas coisas, mas, principalmente, quero que o tempo corra justo, pois nessa luta inglória, onde masculino e feminino se digladiam em busca de direito, poder e reconhecimento, só quem perdeu foi o amor...
E, é por isso, professor, que a minha redação sobre reminiscências está incompleta. Faltou saudade para contar histórias.
3 comentários:
Que lindo!!E teu professor entenderá...Adorei!beijos,chica
O conto precisa sempre do picante da vida, mesmo quando ele não é alegre!
Uma bela construção literária plenamente conseguida.
Beijinhos
Pode faltar tudo para poder falar de amor, mas as palavras, essas soltam-se de uma forma sempre emocionante.
Mais um texto brilhante querida amiga.
Beijinhos Julieta
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